Page 83 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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tentando arrancar seus olhos. Ele se vira e a bate contra a parede – e mesmo

                assim ela não solta. Ela berra insultos e xingamentos em seu ouvido.
                  Seu pé se prende no carpete grosso e ele tropeça para a frente. Sua perna
                acerta o batente da janela e ele cai sobre a pequena varanda, chocando-se

                contra a grade. Há um sentimento de súbita leveza e um grito de terror.
                  – Ah, por favor… não!

                  Ele se lança para a frente, joga as mãos para fora. Sente os dedos roçarem
                na perna da garota.

                  E então ela se foi.
                  Um segundo depois, ele ouve a batida atordoante da carne se estatelando

                no chão.
                  Gritos vindo de baixo. Gritos vindo de trás dele. As garotas gritam o nome
                dela.

                  – Mary!
                  Ele mal as ouve. Está inclinado por sobre a varanda, imaginando a cena lá

                embaixo. Sirenes ressoando, gritos de pânico ecoando de um lado para o
                outro. Ele ouve passos rápidos e desesperados no quarto atrás dele: Angelo

                está fugindo.
                  Matt se vira atordoado. Pode sentir os olhares das garotas. Ele quer dizer

                que foi um acidente, que não foi culpa sua, mas não consegue. Ele se volta
                para a janela, entorpecido de horror. Sai para a pequena varanda e sobe para
                o telhado, afastando-se lentamente.

                  Ele a matou. Sequer a conhecia, e a matou.
                  Ele deixa que seus pés o levem pelos telhados da Cozinha do Inferno. Fica

                pensando que nada daquilo é real. Que não aconteceu. O mesmo sentimento
                que teve quando seu pai foi assassinado. A velocidade de tudo diminui. A

                realidade muda, torna-se nova de novo, como se ele estivesse vivenciando
                tudo aquilo pela primeira vez, mas por meio de um filtro de dor e horror.

                  Ele volta ao ginásio no porão de Stick. Precisa de consolo. Alguém que
                possa entendê-lo.
                  Tropeça escadas abaixo.

                  – Stick?
                  Não há resposta.
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