Page 91 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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– Ah. Sim. Eu tenho. Tenho uma família, quero dizer. A verdade é que
provavelmente vou conseguir descansar mais aqui do que em casa.
Como Larks não responde, ele acrescenta.
– Bebê recém-nascido. Ainda não dorme a noite toda.
Larks assente, mostrando compreender.
E, então, com um movimento ligeiro de mão, corta o pescoço do policial
com a faca. O homem pisca. Por um momento, é como se nada tivesse
acontecido, de tão afiada que é a lâmina da faca de Larks. Uma faca para
filetar peixes – a única coisa que pertenceu ao seu pai. Lentamente o
policial cai para o lado e a ferida se abre, revelando algo parecido com um
sorriso sangrento.
Larks se move com rapidez. Ele empurra a porta, abre, agarra o policial, e
o arrasta para dentro. Ele consegue enfiar o corpo na enfermaria antes que
suje todo o chão lá fora.
Ele derruba o policial, ainda vivo, no chão. O policial ergue as mãos,
agarrando o ar. Larks se agacha perto dele, observando. Ele sempre foi
fascinado pelo momento da morte. Cada uma das pessoas que ele matou –
as quais não tiveram morte instantânea, e ele trabalha duro para se certificar
de que nunca tenham – passou pela mesma sequência de emoções.
Primeiro é a descrença. Elas lutam, sem nem saber o que está por vir. E
então a fúria por se aproximarem da morte. A raiva absoluta, primitiva, por
estarem perto de se extinguirem e não haver nada que possam fazer para
deter isso. A impotência deve ser a pior parte, Larks se diverte pensando.
Aquele sentimento de que seu destino foi arrancado de suas mãos. Seu
futuro foi roubado.
Depois disso, há uma onda de pânico. O corpo se debate, temendo o fim.
E, finalmente, a aceitação. Pensamentos sobre aqueles que serão deixados
para trás.
Larks sempre sabe dizer quando mudam para esse estágio da morte.
Seus corpos cedem. Seus olhares se afastam, recusando-se a olhar para
qualquer outra coisa que não sejam suas próprias lembranças enquanto
morrem.