Page 89 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Larks espera. Calmo. Ele sabe que vai receber um pedido para fazer algo
ruim, e para ele está tudo bem.
Larks sofre de uma falta de moral que o incomodou em certo ponto de sua
vida. Não conseguia entender porque estava pouco se lixando para as
pessoas, não sentiu nada da primeira vez que torceu e arrancou a cabeça de
um passarinho, suas perninhas arranhando seu punho por quase um minuto
enquanto sua cabeça jazia a certa distância. Alguns anos depois, ele
encontrou na biblioteca um livro para terapeutas. Explicava sobre
sociopatas e psicopatas, e esse tipo de coisa. Ele leu o livro com grande
interesse, porque o descrevia quase que exatamente. Não era um psicopata.
Era um sociopata. O que é diferente.
– Slade e os outros – diz Fisk, suavemente – não devem sair do hospital.
É tudo o que diz. Tudo que tem a dizer.
Larks termina sua cerveja, se levanta e deixa o bar.
Sai para a rua. O ar está gelado. Uma friagem que o atinge no fundo da
garganta quando ele respira, fazendo arder suas narinas toda vez que
inspira.
Ele gosta do inverno. Tudo está morto. O céu fica cinza. As árvores
enegrecidas e secas, as ruas cobertas de gelo. Mas isso faz com que se sinta
mais vivo do que no verão. O verão o sufoca, o derruba por causa do calor e
de um peso que não o permite se mover. Mas o inverno… ele volta à vida
no inverno. O frio desperta algo nele. Algo primitivo.
É a melhor época para matar. Parece correto matar durante o inverno.
• • • •
Ele espera passar da uma da manhã. Ele sabe que é quando o hospital fica
mais movimentado. A molecada é despejada dos bares e clubes noturnos,
entram em brigas, quebram garrafas com suas cabeças. Coisas inofensivas,
mas que mantêm os médicos ocupados.
Larks entra no hospital por uma das entradas do fundo. Lá dentro, ele
passa por enormes caixas de plástico, repletas de lençóis sujos, diante de um
elevador de carga. Ele poderia simplesmente entrar e ir direto para a
enfermaria.