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Cartas internacionais
Sob pressão do capital, das instituições europeias
e da globalização ultraliberal, os lacaios políticos
da burguesia aumentam por toda parte sua
agressividade em relação ao mundo do trabalho.
O objetivo é pulverizar as proteções adquiridas pelas
lutas sociais e as conquistas políticas da esquerda
Enquanto isso, o patronato segue com sua batalha ideológica. Depois da que-
da do Muro de Berlim, o capitalismo predatório passou a operar de forma natural por
meio das leis do mercado e da Escola de Chicago, eliminando as alternativas. Isso se
traduz em uma asfixia da democracia e das questões sociais, consequências longín-
quas da teoria do escoamento superficial.
Essa voracidade ganha novas perspectivas com a crise nos planos financeiro,
sanitário (mercantilização da saúde) e digital (dominação das nossas vidas, das nossas
necessidades e do nosso imaginário). Quanto ao Banco Mundial, ele oferece emprés-
timos usurários para pressionar ainda mais os países pobres.
O capitalismo é cada vez mais um fator descivilizatório, que discrimina todos
os indivíduos com base nos recursos, poderes e saberes de cada um.
As resistências populares
Diante dessas políticas, o povo francês está engajado em um processo de re-
sistência. Esses movimentos sociais não são uma particularidade hexagonal. Eles es-
tão se tornando cada vez mais significativos em escala mundial, seja nas Américas, na
África, no Magreb ou no Oriente Médio. Investem em campos cada vez mais vastos,
em conjunto com o Movimento dos Indignados, as feministas ou os ecologistas. Tanto
é que podemos nos ver entrando em um tempo de contestação mundial.
Em toda parte, os desafios globais que atingem nosso planeta, como o aque-
cimento global, as migrações, inclusive de refugiados, as guerras, as pandemias e a
fome, suscitam mobilizações multiformes e ampliam a frente social na França.
As lutas contra as políticas econômicas e sociais aplicadas por diferentes go-
vernos exprimem também a amplitude dos descontentamentos e das aspirações.
O neoliberalismo desencadeou na França um aumento da desigualdade e
uma expansão da pobreza. Uma exasperação e uma cólera profundas conduziram a
um levante daqueles que vivem mal, que são ignorados e invisíveis, dos que são sub-
metidos aos mecanismos de exploração, dominação e alienação. O enriquecimento Revista Princípios nº 159 JUL.–OUT./2020
insolente, o desprezo e o cinismo da classe dominante suscitam raiva e ressentimento
inigualáveis, assim como formas de radicalidade de contestação, que constituem sin-
tomas de declínio social. Assim, grande parte da França popular está enfrentando as
injustiças com uma imensa vontade de se defender e ser livre.
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