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ENTREVISTA




          Falsário. Sou trabalhador, tenho muito   ganhar. Porque os cara não tem um     gente não precisa nem só conquistar o
          orgulho do que eu sou. Eu tenho uma    problema só com entregador. Os cara     direito. No nosso caso, a gente precisa
          história linda. Uma história que vocês   tem um problema com o trabalhador,    reconquistar. Porque a gente já con-
          nunca vão ter. E vocês não vai vim aqui   com a força de trabalho no geral. Eles   quistou, perdeu, e agora a gente preci-
          rasgar a minha história. Jogar a minha   não valoriza a força de trabalho. Sen-  sa reconquistar. É igual a democracia:
          história no lixo. A história de ser En-  do que, a força de trabalho levantou o   queria que a luta dos Entregadores An-
          tregador Antifascista é isso. É essa. O   mundo. O mundo como as pessoas en-   tifascistas fosse pra melhorar a Cartei-
          dia 1º de julho foi uma greve geral que   tendem foi a força de trabalho que fez.   ra de Trabalho, e não pra recuperá-la.
          aconteceu aqui no Brasil, aconteceu na   Nada mais justo a gente ser valorizado   Queria que a luta dos Entregadores An-
          Argentina, no Chile, no Peru, no Mé-   por eles.                               tifascistas fosse uma luta pra ampliar a
          xico, no Equador, e qual que é a pau-                                          democracia, fazer a democracia chegar
          ta? A pauta da greve aqui no Brasil é:   Paulo Fontes: Você mencionou tam-     pra todos. Não pra lutar pra não perder
          maiores taxas; maiores taxas mínimas;   bém, aí nessa sua resposta, essa cone-  ela, porque ela tá quase morrendo, ali,
          fim dos bloqueios injustos. Certo? Os   xão da luta dos entregadores com a     agonizando na UTI.
          Entregadores Antifascistas tão dentro   luta dos trabalhadores em geral, que é
          da greve, apoiam a greve, mas são mo-  uma luta que tem uma história já mui-   Paulo Fontes: Galo, vocês têm conexões
          vimentos diferentes. Os Entregadores   to antiga, muito longa. Como é que      com outros movimentos sociais? Como
          Antifascistas tem uma pauta, a greve   você vê o movimento de vocês nessa      que é essa articulação mais ampla?
          tem outra pauta, essas pautas elas se   trajetória mais longa, o que que vocês
          conectam, porque a gente acredita que   são: uma novidade? O que que vocês     Paulo Galo: A gente tem contato com
          essas são necessidades dos trabalha-   são: uma continuidade? O que que di-    o pessoal do MST, contato com as cen-
          dores. E se os trabalhadores no geral   ferenciaria vocês do movimento sindi-  trais sindicais, contato com os sindica-
          definiram essa pauta, então essa pau-  cal, digamos, mais tradicional?         tos, contato com partido político, con-
          ta ela tem que ser respeitada. Nós, os                                         tato com o movimento negro, a gente
          Entregadores  Antifascistas  somos  um   Paulo Galo: Se a uberização é um des-  tem contato com todo o pessoal, mano.
          movimento pra além das greves. Não     dobramento  da Revolução Industrial,    O discurso dos Entregadores Antifas-
          significa que nois é melhor que a greve.   os Entregadores Antifascistas é um des-  cistas é um discurso de incluir e não de
          A greve é muito mais importante pros   dobramento dos operários. Nós somos     separar, a gente quer se unir. Todas as
          Entregadores Antifascistas. Mas depois   um desdobramento da história dos      políticas que querem empoderar o tra-
          que a greve acaba, os Entregadores An-  operários. Somos os operários do nos-  balhador, tem que se unir pra empo-
          tifascistas continuam a luta. E agora   so tempo. Fazemos conforme enten-      derar o trabalhador. Eu (es)tava numa
          vai ter a greve do dia 25 de julho. Vai   demos o nosso tempo, o nosso espaço,   reunião com o pessoal da Argentina
          ser uma repetição dessa do dia 1º de   então pra gente a luta se conecta. Se co-  agora, pra gente criar uma organiza-
          julho. Porque o pessoal tá empolgado.   necta lá com a conquista da liberdade.   ção latino-americana nossa. Certo?
          O pessoal tá se sentindo isso mesmo:   A partir da conquista da liberdade. E aí,   Começando com Brasil e Argentina,
          trabalhador, orgulhoso de ser trabalha-  é outra sequência de conquistas né: sa-  ampliando pro Chile, Uruguai... e a
          dor, e que quer lutar pelos seus direi-  lário, salário mínimo, direitos que não   gente poder unir os trabalhadores da
          tos. Bacana mano, é isso mesmo. Tem    deveriam ser conquistados, né. Direito   América Latina inteira. Entendeu? A
          que ampliar. Pra mim tem que am-       já é direito por si só. Deveria ser cedido   minha caminhada é essa, mano, classe
          pliar até pra outras categorias. Porque   a quem merece esses direitos, a quem   trabalhadora unida. Pra mim não é só
          eu acredito numa classe trabalhadora   tem esses direitos. Mas é uma coisa que   sobre os Entregadores também, mano.
          unida. Quanto mais a classe trabalha-  a gente tem que conquistar. E não só    Pra mim é sobre a classe trabalhado-
          dora tiver unida, mais a gente tem que   conquistar... o Brasil é tão difícil que a   ra unida. Cês lembra das Tia da Avon?





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