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ENTREVISTA
Fote: Rovena Rosa/Agência Brasil
bilidade que tem surpreendido a mui-
tos. Cê poderia contar um pouco como #Brequedosapps
que esse movimento foi criado, quais
as principais reivindicações, quais os
desafios pra organizar uma categoria
tão dispersa, como você falou, tão es-
palhada, e tão precarizada. E como que
você avalia a recente greve que vocês
fizeram no dia 1º de julho?
Paulo Galo: Bom, eu sou um anti-fas-
cista desde criança, mano. Desde essa
história aí de quando meu pai subiu
na mesa e começou a sapatear na mesa
pra pedir carne. Pra poder ser atendido.
Eu sou um anti-fascista desde essa épo-
ca. Você não sabe o que significa, mas
você já tem um sentimento que você é
contra aquilo. O hip hop me ensinou do se fosse Entregadores Anticapitalis- nos fruto, eu respeito quem bate no
o que eu era contra. O hip hop acabou tas. Eu concordo. Mas, nós entregado- galho. Mas pra mim, é machadada no
me ensinando o que que eu era contra, res, se a gente for perder tempo, indo tronco e depois (ar)rancar o mal pela
o que que eu não gostava, o que que eu atrás da empresa que tá acabando com raiz. Pra mim é isso. Então a ideia de
odiava, o que que eu amava, o hip hop a gente, a gente vai ter que ir lá na play serem entregadores antifascistas é ir di-
me ensinou. Mas eu sou um antifascis- store e vai descobrir que todo dia surge reto no tronco. É ir direto no tronco.
ta desde aquela época. Num país onde uma empresa nova. Todo dia surge um É ir diretamente no tronco. Entendeu?
a onda do fascismo tá alta, tá grande e aplicativo novo de delivery. Certo? Eles Mostrar que nois não concorda com
tá forte essa onda do fascismo, eu acho não tão no ramo do delivery. Eles tão isso, tá errado, mano. Qual que é a luta
que eu não teria criado um outro mo- no ramo da exploração. O grande negó- dos Entregadores Antifascistas? É a
vimento que não fosse um movimento cio lucrativo nisso, é a exploração. Não luta pela CLT, a luta pelo conjunto de
antifascista, no caso. Entendeu? Então, é a entrega de comida. Então eu não lutas dos trabalhadores. Eu não abro
os Entregadores Antifascistas eles já vou perder meu tempo, “ó, veja bem mão da luta dos trabalhadores. Come-
nascem num primeiro momento que ó, se eu falar mal da Adidas, é a Nike çando pela liberdade, que foi nois que
eu entendo que o aplicativo é fascista. que ganha... se eu falar mal da Nike, é conquistou. O Salário mínimo foi nois
O aplicativo, ele não tem rosto, ele não a Adidas que ganha”. Eu não vou ficar que conquistou. FGTS, Férias, Seguro
tem cara, ele não tem patrão, ele é um perdendo meu tempo falando mal de Desemprego, Insalubridade, Adicional
robô... ele coloca trabalhador contra um, de outro. Ou do aplicativo “X”, ou Noturno, certo? Foi tudo os trabalha-
trabalhador. Ele impede o diálogo do do aplicativo outro... não, mano... por- dores que conquistaram, mano. Vários
trabalhador de negociar. Ele estabelece que pra mim é assim, ó: a raiz, ela é e vários direitos, eu não abro mão de
uma taxa que ele acha justa, menos de egoísta; o tronco é capitalista; os galhos um. Eu não abro mão de um. Não é
50 centavos por quilômetro, pra mim é racismo, machismo, homofobia... os um aplicativo que vai chegar e vai falar
isso é fascismo. Então, a ideia de serem frutos é isso aí, aplicativo; Bolsonaro; assim, “ah, você agora não é trabalha-
entregadores antifascistas, é ir direto Luciano Huck; pa-pá-pá... Certo? Os dor, você é empreendedor”. Não, não,
no problema, mano. Faria mais senti- fruto é isso aí. Eu respeito quem bate não, não não... sai daqui, mentirosão.
36 ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020