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ENTREVISTA Paulo Galo
(Entregadores
Antifascistas)
ENTREVISTA CONCEDIDA
À Rádio Cidadania
Episódio 11 – Paulo Galo
(Entregadores Antifascistas)
Rádio Cidadania é um
podcast da Universidade
da Cidadania da UFRJ,
vinculada ao Fórum de
Cultura da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Foto: Felipe Larozza
Transcrição: Adriano Bueno
Paulo Fontes: Bem vindos à Rádio Ci- gente entrar na história do movimento eu já tive uma percepção de mundo
dadania, o Podcast da Universidade propriamente dito, eu queria que você política já. Eu analisei o mundo da se-
da Cidadania da UFRJ, um espaço de falasse um pouco dessa sua trajetória guinte forma: o mundo tem um pro-
debate entre o mundo universitário e e das suas experiências com o hip hop, blema com nós por problema nenhum.
os movimentos sociais. Eu sou Paulo que me parece ter uma importância Quando eu fiz ali meus 10, 11 anos, eu
Fontes, professor do Instituto de His- grande na sua vida. percebi que ali eu queria ser respeitado
tória da UFRJ e atual diretor da Uni- já, já queria me impor, já queria ser res-
versidade da Cidadania. Hoje temos a Paulo Galo: Bom, muito novinho, eu já peitado, queria que ninguém mexesse
honra de receber Paulo Roberto da Sil- tive uma percepção de mundo política comigo, queria, sabe... e aí eu percebi
va Lima, mais conhecido como “Galo já né mano. Eu lembro que meu pai, que quem tinha isso na comunidade
de Rua”, uma das principais lideranças minha mãe e um amigo do meu pai, onde eu morava era os bandidos, os cri-
do movimento dos entregadores anti- agente foi numa churrascaria e o (gar- minoso e tal. E aí só que eu não tinha
fascistas. Paulo Galo, como se tornou çom) não queria servir carne pra gente, noção do que o bandido fazia, eu tinha
mais conhecido, será entrevistado por aí meu pai acabou dançando em cima noção do que o bandido recebia. Rece-
mim, e por Dulce Pandolfi, historiado- da mesa e dando um show na churras- bia amor, recebia carinho da comunida-
ra e membro da Universidade da Cida- caria pra poder ser atendido. Aquilo me de, recebia respeito, e eu queria aquilo
dania. Dulce, a palavra está contigo! chamou a atenção. Uns dias mais pra pra mim também. E aí comecei a ficar
frente a polícia parou o carro da mi- perto ali. A única coisa que o bandido
Dulce Pandolfi: Olá Galo, meu nome nha família, tirou meu pai de dentro e tinha medo era a polícia. O bandido
é Dulce Pandolfi. Eu queria começar queria colocar o braço do meu pai pra tinha medo da polícia. A polícia dava
a nossa entrevista falando um pouqui- trás, meu pai não aceitou porque acha- tapa na cabeça do bandido e o bandi-
nho sobre a sua trajetória. Eu sei que va que era um tratamento que era para do não fazia nada... e aí eu escutei na
você é paulistano, é compositor e can- bandido e não pra um trabalhador. E aí rádio uma música que xingava a polí-
tor de hip hop, e com 31 anos de idade meu pai se negou a colocar o braço pra cia, os cara falava o endereço deles e o
você emergiu como uma das maiores trás e a polícia tentou quebrar o braço nome deles. Aí eu falei: “ah, esses caras
lideranças do movimento de entre- do meu pai e tal, aquele problema... E aí devem ser os maiores bandidos da
gadores de aplicativo. Então, antes da ali de dentro do carro já pequenininho história do mundo, se um dia eu for
ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020 33