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No mesmo aterro, mas na camada sobre a canalização, Paisagem e salubridade durante o século XIX
foi identificado um pacote que aponta o recuo
Com o olhar direcionado ao século XIX, podemos tratar
cronológico desse imóvel ao século XVIII. Alguns vestígios
das mudanças nas paisagens ao utilizar também fontes
dessa camada podem ser visualizados a seguir, onde
documentais produzidas pelo poder público.
apresentamos tipos distintos de faianças produzidas
na Península Ibérica (figura 5), selecionados de uma Com base na documentação manuscrita da Diretoria
amostra bastante representativa, e que podem ter sido de Obras Públicas, percebe-se que seus gestores, ao
confeccionados desde a segunda metade do século XVI realizarem intervenções no espaço do centro urbano da
até aproximadamente a terceira década do século XVIII . 5 capital baiana, buscavam não interferir nas edificações.
Por outro lado, com a subdivisão das moradias na
5 Para as análises da datação relativa ao material freguesia da Sé em meados do século XIX (Nascimento,
cerâmico utilizamos o Catálogo das coleções cerâmicas
da 6ª SR/Iphan, onde é possível consultar informações 1986, p. 44-45), foram utilizadas as áreas adjacentes dos
acerca da produção cerâmica forânea e encontrar imóveis, ampliando as habitações com aterramentos
extensa bibliografia e endereços na rede mundial de
computadores que contribuem para a compreensão dos que atingiram, entre outros espaços e estruturas,
períodos de fabricação da faiança comercializada nos também as canalizações.
séculos referidos neste texto. Ver NAJJAR et al. Catálogo
das coleções cerâmicas da 6ª SR/Iphan. Rio de Janeiro: Tais expedientes apresentam abrangentes peculi-
Iphan, 2007.
aridades do processo de urbanização da freguesia, que
estava em crescimento desde o segundo quartel do
século XIX e apresentou taxas constantes de aumento
Figura 5 –
Faianças de populacional no período de 1775 a 1807. Na primeira
proveniência ibérica, metade do século XIX, é importante observar, houve
recuperadas na casa
15 , rua 3 de Maio. uma diminuição no número de habitantes da Sé por
causa de várias epidemias (Mattoso, 1992, p. 111;
Nascimento, 1986, p. 68-72; Reis, 1991, p. 33-35).
Além das observações mencionadas acima, outras são
as singularidades do crescimento urbano da freguesia.
Em fins dos setecentos ainda existiam imóveis não
agrupados nos quarteirões adjacentes ao vale do rio
das Tripas. Algumas iconografias são esclarecedoras ao
apontar as feições da localidade. Pode-se observar na
planta de autoria de José Azevedo Galeão (figura 3), na
área destacada (quadrilátero em azul), o lugar onde em
82 seguida, provavelmente no início do XIX, foram erguidos
imóveis. Já o quadrilátero verde localiza a Capela de
ArqueologiA no Pelourinho