Page 81 - ARqUEOlOGiA NO PElOURiNhO
P. 81

No mesmo aterro, mas na camada sobre a canalização,   Paisagem e salubridade durante o século XIX
                           foi  identificado  um  pacote  que  aponta  o  recuo
                                                                           Com o olhar direcionado ao século XIX, podemos tratar
                           cronológico desse imóvel ao século XVIII. Alguns vestígios
                                                                           das mudanças nas paisagens ao utilizar também fontes
                           dessa camada podem ser visualizados  a seguir, onde
                                                                           documentais produzidas pelo poder público.
                           apresentamos tipos distintos de faianças produzidas
                           na Península Ibérica (figura 5), selecionados de uma   Com base na documentação manuscrita da Diretoria
                           amostra bastante representativa, e que podem ter sido   de Obras Públicas, percebe-se que seus gestores, ao
                           confeccionados desde a segunda metade do século XVI   realizarem intervenções no espaço do centro urbano da
                           até aproximadamente a terceira década do século XVIII . 5  capital baiana, buscavam não interferir nas edificações.
                                                                           Por outro lado, com a subdivisão das moradias na
                            5   Para as análises da datação relativa ao material   freguesia da Sé em meados do século XIX (Nascimento,
                            cerâmico utilizamos o Catálogo das coleções cerâmicas
                            da 6ª SR/Iphan, onde é possível consultar informações   1986, p. 44-45), foram utilizadas as áreas adjacentes dos
                            acerca da produção cerâmica forânea e encontrar   imóveis, ampliando as habitações com aterramentos
                            extensa bibliografia e endereços na rede mundial de
                            computadores que contribuem para a compreensão dos   que atingiram, entre outros espaços e estruturas,
                            períodos de fabricação da faiança comercializada nos   também as canalizações.
                            séculos referidos neste texto. Ver NAJJAR et al. Catálogo
                            das coleções cerâmicas da 6ª SR/Iphan. Rio de Janeiro:   Tais expedientes apresentam abrangentes peculi-
                            Iphan, 2007.
                                                                           aridades do processo de urbanização da freguesia, que
                                                                           estava em crescimento desde o segundo quartel do
                                                                           século XIX e apresentou taxas constantes de aumento
              Figura 5 –
             Faianças de                                                   populacional no período de 1775 a 1807. Na primeira
      proveniência ibérica,                                                metade do século XIX, é importante observar, houve
      recuperadas na  casa
        15 , rua 3 de Maio.                                                uma diminuição no número de habitantes da Sé por
                                                                           causa de várias epidemias (Mattoso, 1992, p. 111;
                                                                           Nascimento, 1986, p. 68-72; Reis, 1991, p. 33-35).

                                                                           Além das observações mencionadas acima, outras são
                                                                           as singularidades do crescimento urbano da freguesia.
                                                                           Em fins dos setecentos ainda existiam imóveis não
                                                                           agrupados nos quarteirões adjacentes ao vale do rio
                                                                           das Tripas. Algumas iconografias são esclarecedoras ao
                                                                           apontar as feições da localidade. Pode-se observar na
                                                                           planta de autoria de José Azevedo Galeão (figura 3), na
                                                                           área destacada (quadrilátero em azul), o lugar onde em
     82                                                                    seguida, provavelmente no início do XIX, foram erguidos
                                                                           imóveis. Já o quadrilátero verde localiza a Capela de





                                                                                              ArqueologiA no Pelourinho
   76   77   78   79   80   81   82   83   84   85   86