Page 10 - Cinema Português
P. 10
Primeiras décadas do Cinema em Portugal
Edwin Rousby exibia os filmes da casa produtora do inglês Robert-William Paul, da qual era enviado.
Eram filmes de cerca de um minuto, "Vistas Animadas" tomadas pelos operadores da produtora inglesa.
Outros filmes: "Bailes Parisienses", "A Ponte Nova em Paris", "O Comboio", "A Dança Serpentina", "Uma Loja
de Barbeiro e Engraxador em Washington".
Em 26 de Agosto do mesmo ano de 1896, no "Theatro-Circo do Principe Real" - futuro "Teatro Sá da
Bandeira" após 1910 - na cidade do Porto, é apresentado à Imprensa o "Animatographo Portuguez Pinto
Moreira"; sessões públicas a partir do dia seguinte, com doze quadros, «todos de completa novidade e alguns
de esplêndido efeito». No mesmo Theatro, e a 12 de Novembro de 1896 tem lugar a primeira sessão do
"Kinetographo Portuguez", com a projecção de "Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança" (Rua de
Santa Catarina, Porto), de Aurélio da Paz dos Reis e Francisco de Magalhães Bastos Júnior. A propósito deste
acontecimento o Jornal de Notícias comentava:
«O espectáculo de hoje apresenta o Kinetógrapho Portuguez, sendo exibidos 12 perfeitíssimos quadros,
7 nacionais e 5 estrangeiros. Os quadros portugueses representam o seguinte: «Jogo do Pau» (Santo Tyrso),
«Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança», «Chegada de um Comboio Americano a Caboucos», «O
Zé Pereira nas Romarias do Minho», «A Feira de S. Bento», «A Rua do Ouro» (Lisboa), «Marinha». O
espectáculo é completado com a companhia de Zarzuela que se fará ouvir nas peças Música Clássica, Las
Campanelas (primeira apresentação) e «Os Africanistas». O kinetógrapho português funciona no intervalo do
2º para o 3º acto».
O sucesso foi imediato e o público acorria em massa, fazendo deste novo espectáculo um retumbante
êxito. Apesar de não terem sido logo construídas salas animatographo, foi em espaços teatrais, que as
sessões continuaram a ter lugar. É assim que o "Teatro D. Amélia" (actualmente "Teatro Municipal São Luiz")
inicia , dois meses depois do "Real Coliseu de Lisboa", as suas «sessões cinematográficas», cuja qualidade
era superior, pois utilizavam tipos de equipamento de projecção mais aperfeiçoado.
Kinetographo em 1896
Até ao final do século XIX apenas outra sala, o "Salão Avenida", situado na Avenida da Liberdade, em
Lisboa, aderiu ao espectáculo do cinema. Foi na primeira década do século XX que se verificou a expansão do
espectáculo cinematográfico, conquistando, para além do público popular que no animatógrafo encontrava
entretenimento barato, variado e acessível, também a burguesia e certos intelectuais.
As projecções feitas em Portugal por Aurélio Paz dos Reis - talvez por deficiências técnicas - não
despertaram mais do que um momentâneo movimento de curiosidade. O dinheiro investido no “Kinetographo
portuguez” e nos filmes realizados não foi recuperado. Paz dos Reis pensou, então, no Brasil e para lá partiu
em 8 de Dezembro de 1896, com máquina, filmes e vistosos cartazes publicitários. No Rio de Janeiro, por
circunstâncias várias, entre as quais uma chuva torrencial, o êxito não foi por aí além. Em Fevereiro já Paz dos
Reis estava de novo no Porto, desiludido. Abandonando o cinema, voltou às suas flores e outras ocupações
(fez parte de algumas vereações da Câmara Municipal do Porto). Em 1919, por ocasião da epidemia da
pneumónica, morrem-lhe três dos seus quatro filhos. Foi um golpe muito duro que não deixou de pesar nos
dias que se lhe seguiram. Doze anos mais tarde, a 19 de Setembro de 1931, acometido de congestão
4