Page 105 - O Que Faz o Brasil Brasil
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Roberto DaMatta por ele mesmo
Meu nome completo é Roberto Augusto da Matta e tive muito
encabulamento com essa marca de família porque na escola eu
sempre virava o “roberto mata” e todo mundo queria saber quem
eram as vítimas. Tímido e calado, reprimido por autoprojeto de
perfeição e santidade, cheguei até mesmo a pensar em ser padre.
Esse plano durou até nossa saída de Juiz de Fora para São João
Nepomuceno, onde conheci o esporte, os bailes da primavera, os
amigos do peito e as primeiras namoradas. Nasci, porém, em Niterói,
em 1936, onde moro até hoje, pensando que Niterói é uma cidade
especial que confere a alguns dos seus moradores esse mistério de
uma associação periférica com o Rio de Janeiro dos grandes
acontecimentos, mas que situa a todos numa espécie de meia-
distância crítica de tudo. Essa é uma posição antropológica por
excelência que, suponho, seja também a marca de outros
niteroienses sensíveis, gente como Sergio Mendes e Walter Lima Jr...
Em Niterói enterrei meu coração e o renovei quando conheci minha
mulher, Celeste, numa tarde bonita de vestibular num pátio
sombreado da, então, Faculdade Fluminense de Filosofia, onde
ambos cursamos um bacharelato de História. Em Niterói também fiz
minha casa, nasceram meus filhos e foi onde me descobri professor-
pesquisador. É desta base que saio todos os anos para lecionar em
outros centros do Brasil e do exterior.
Minhas primeiras aspirações intelectuais foram na área das artes.
Queria ser pintor e desenhista; depois, escritor. Aprendendo
seriamente as Ciências Sociais, descobri que seria possível conciliar o
desejo de inventar com o comentário realístico e inteligente das