Page 106 - O Que Faz o Brasil Brasil
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motivações e relações humanas. Fiquei interessado em Antropologia

                  Cultural ou Social porque estava sempre fascinado com a
                  semelhança e a diferenças entre os homens e  as sociedades. Logo

                  em 1959, quando tinha 23 anos, iniciei um estágio profissional no

                  Departamento de Antropologia do  Museu Nacional, na Quinta da

                  Boa Vista, de onde jamais saí. De estagiário passei a bolsista e, de pois,
                  a pesquisador e professor, tendo contribuído naquela instituição com

                  um bocado do meu sangue, suor e lágrimas para a fixação

                  definitiva do seu hoje conhecido Programa de Pós-Graduação em

                  Antropologia Social do qual fui Coordenador durante  alguns  anos,
                  aqueles anos duros da repressão dos novecentos e setenta. Fui também,

                  nesta mesma época, Chefe do Departamento, papel  que me deixou

                  muitas vezes a matutar no meu pendor inusitado a um certo masoquismo.

                  Mas mesmo envolvido na mais densa e cruel selva administrativa, não

                  deixei de lado minhas  fontes de serenidade e  inspiração e continuei
                  realizando pesquisas e publicando  livros. Neste Museu Nacional tenho

                  orientado inúmeras teses de mestrado e doutorado e dado aulas, cursos e

                  seminários.

                         Sempre li entre fascinado e respeitoso os clássicos do pensa mento
                  sociológico francês, alemão e inglês. No início dos anos 60, já iniciando os

                  meus primeiros passos como profissional de antropologia, tive dois

                  encontros importantes.  Um deles com a América do Norte, via

                  Universidade de Harvard. O outro, com a Antropologia  Social na  sua
                  prática de campo, por meio dos índios Gaviões e Apinayé do Brasil

                  Central. Por meio desta associação, realizei pesquisas  acadêmicas e

                  teóricas, imaginando por um momento um futuro trancado na “ciência” e

                  no “saber”. Mas a distância do Brasil a que a experiência norte-

                  americana me conduziu fez-me um observador  critico  da  sociedade
                  brasileira e seus costumes, iniciando me como pesquisador e comentador

                  de  minha  própria  sociedade  Assim é que meu primeiro livro individual,

                  Ensaios de Antropologia Social  (Vozes), é marcado pela diversidade de
                  interesses de quem estava como que buscando um objeto definitivo de
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