Page 107 - O Que Faz o Brasil Brasil
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trabalho. Ali, naquele pequeno volume de ensaios, eu falo de mitologia

                  indígena, encaro uma crítica literária a nada menos que Edgar Alan Poe,
                  discuto o problema da má-sorte na Amazônia e pela primeira vez abordo o

                  carnaval dentro de uma perspectiva antropológica. Isso é muito diverso

                  do meu primeiro livro, Índios e castanheiros (Paz e Terra), escrito a quatro

                  mãos com Roque Laraia, que é relato  descritivo de uma situação de
                  contato intercultural onde os índios, conforme  se  sabe,  têm  levado

                  sistematicamente a pior. Se ali eu tinha um  objeto  apaixonado  de

                  discurso, no outro livro eu estava buscando o Brasil. Meu terceiro livro é o

                  resultado do trabalho  acadêmico desenvolvido durante dez anos no
                  Museu e em Harvard. É o livro Um mundo dividido: a estrutura social dos

                  índios Apinayé (Vozes),que também foi traduzido e publicado em inglês

                  pela Harvard Univ. Press. Meu quarto livro é o ensaio Carnavais, malandros

                  e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro  (Zahar) — traduzido

                  para o francês —, onde decidi retomar o ensaio como instrumento de
                  interpretação do Brasil. Em seguida a ele, publiquei Universo do carnaval:

                  imagens e reflexões  (Pinakhoteke); organizei  Universo do futebol

                  (Pinakhoteke) e  E.R. Leach  (Ática); e escrevi uma  introdução  à
                  Antropologia Social chamada  Relativizando  (Vozes), que tem tido uma

                  acolhida generosa entre estudiosos  e  estudantes de Antropologia no

                  Brasil e no exterior. Ao lado destes livros, tenho feito muitos artigos e

                  ensaios que vão da violência à sexualidade no Brasil. Hoje fico cada

                  dia mais certo de que a Antropologia  Social  é  também  um  código
                  literário e que só nos faltam  a ousadia temática e aquela

                  capacidade de observação e articulação que, de resto, os grandes

                  mestres da Etnologia  do passado tinham. Afinal, o  prêmio não é

                  somente pela prática da “ciência”, mas pela perseverança em
                  praticá-la, sempre, mesmo vivendo num mundo que  nos leva  para

                  todos os lugares...

                         Recentemente iniciei uma experiência na televisão escrevendo

                  e apresentando a série Os brasileiros.
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