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fatores externos àquela situação poderá provocar uma resolução

                  satisfatória ou menos injusta. Essa é a forma típica do “jeitinho”, e há
                  pessoas especialistas nela. Uma de suas primeiras regras é não usar o

                  argumento igualmente autoritário, o que também pode ocorrer, mas

                  que leva a um reforço da má vontade do funcionário. De fato,

                  quando se deseja utilizar o argumento (ou melhor, contra-argumento)
                  da autoridade contra o funcionário, o jeitinho é um ato de força que

                  no Brasil é conhecido como o  famoso e escondido “sabe com

                  quem está falando?” Aqui, ao contrário do jeitinho e quase como o

                  seu simétrico e inverso, não se busca uma igualdade simpática ou
                  uma relação contínua com o agente  da lei que está por trás do

                  balcão. Mas, isso sim, busca-se uma hierarquização inapelável entre

                  o usuário e o atendente. De tal modo que, diante do “não pode” do

                  funcionário, encontra-se um “não pode do não pode” feito pela

                  invocação do “sabe com quem está falando? Sou filho do Ministro!”,
                  e pronto!, gera-se logo um tremendo impasse autoritário  que

                  dependerá, para a sua solução, dos devidos trunfos  de  quem  está

                  implicado no drama.
                         De qualquer modo, um “jeito” foi dado. Uma forma de

                  resolução foi obtida. E a ligação entre a lei e o caso concreto fica

                  realizada satisfatoriamente para ambas as partes. “Jeitinho.” e “você

                  sabe com quem está falando?” são, pois, os dois  pólos  de  uma

                  mesma situação. Um é um modo harmonioso de resolver a disputa; o
                  outro é um modo conflituoso e um tanto direto de realizar a mesma

                  coisa. O “jeito” tem muito de cantada, de harmonização de interesses

                  aparentemente  opostos, tal como ocorre quando uma mulher

                  encontra um homem e ambos,  interessados num encontro
                  romântico, devem discutir a forma que esse encontro deverá

                  assumir. O “sabe com quem está falando?”, por seu lado, afirma um

                  estilo diferente, onde a autoridade é reafirmada, mas com a

                  indicação de que o sistema é escalonado e não tem uma finalidade
                  muito certa ou precisa. Há sempre outra autoridade, ainda mais alta,
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