Page 21 - Jose Morais Autobiography Book 1
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país e fui também para o estrangeiro no âmbito das provas europeias. Até para os
                  países de leste fomos, como a Croácia e a Roménia. Percorrer o país e viajar para
                  o estrangeiro com o Clube era uma  forma de me evadir do dia a dia que nem
                  sempre me agradava. Em grupo, os  homens que acompanhavam o clube
                  divertiam-se, comiam bem e tomavam uns copos. Havia sempre anedotas,
                  brincadeiras, surpresas e alguns excessos.

                  Nos primeiros tempos de vida em Portugal, tudo parecia bem. As filhas e a mulher
                  acomodaram-se à  nova vida em Portugal,  tendo ajudado  muito  a presença da
                  família, especialmente a do meu irmão  Abel. Mas, nos últimos tempos de
                  permanência no país, quer as filhas quer a Josefina já davam mostras de muito
                  cansaço e alguma desilusão com o país. As filhas tinham saudades dos amigos e
                  dos primos que viviam nos EUA e do estilo de vida que recordavam com saudade.
                  A mulher começou a pressionar-me,  pois  não gostava do tipo  de vida que eu
                  levava: ora ausente a trabalhar ora ausente com o clube. O tempo com a família
                  era escasso e, quando havia, não tinha qualidade. O mesmo se passava com
                  quase todos os homens da freguesia e arredores. O meu pai e mãe apercebendo-
                  se das minhas ausências tentaram chamar-me a atenção para a necessidade de
                  tomar mais cuidado e de dar mais atenção à família.
                  Certo dia, a  minha  filha  mais velha desabafou comigo que, quando atingisse  a
                  maioridade, iria regressar aos EUA, quer eu concordasse ou não. Este foi um sinal
                  de alerta. Sempre lutei para ter a família reunida e dar-me-ia um desgosto muito
                  grande ver partir uma filha em idade tão precoce. Na semana seguinte, parti para
                  os EUA, onde me encontrei com amigos e familiares que me garantiram emprego
                  mal eu decidisse ficar nos EUA.
                  Liguei  de  imediato à  minha mulher e filhas  que  tinham ficado  em Portugal,
                  anunciando-lhes que  fizessem  as  malas para regressar à  América. Lá se
                  prepararam para regressar  aos EUA e regressaram sozinhas. Foi uma alegria
                  imensa quando  nos reencontramos nos EUA. A Josefina estava  feliz, as  filhas
                  ainda  mais  e eu sentia o coração cheio de ver a  família de novo reunida,
                  preparada para um novo recomeço.
                  Esta  foi uma boa decisão, numa altura crucial da minha vida.  Em Portugal, a
                  sensatez nem sempre me acompanhou. A presença de alguns namoricos fugazes
                  faziam perigar o casamento e  o  melhor a  fazer foi recomeçar uma vida nova,
                  concentrando as energias na relação familiar.
                  Confesso, contudo, que me arrependo, até hoje, de não ter aproveitado a minha
                  presença em Portugal para conviver mais com os meus pais. Mal os via
                  embrenhado  na rotina. Perdi momentos cruciais para os conhecer melhor, para
                  falar e aprender com eles. Eram  duas  pessoas fantásticas  com muito
                  conhecimento para nos transmitir. Mas com a vida a correr tudo nos escapa. Até
                  mesmo o contato com os nossos pais.
                  Soube mais tarde que, a partida da minha mulher e filhas, foi bastante dolorosa
                  para os meus pais. Se a saída do Abel e família provocou uma grande tristeza, o
                  que dizer acerca da partida de todos nós? Foi, sem dúvida, com dor que os meus
                  pais assistiram à ausência das netas e de mais este filho. Só mesmo as viagens
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