Page 16 - Jose Morais Autobiography Book 1
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Por esta altura, iniciei o processo de convidar os meus irmãos para virem viver
                  para os EUA através de Carta de Chamada, como se designava, na altura, este
                  procedimento. Em Nova Iorque  viveram comigo e com  a minha  mulher e  filhas
                  quatro irmãos  ainda solteiros,  vindos  de Portugal. Também  alguma família  da
                  Josefina, vinda de New Bedford, se juntou a nós, mais precisamente uma irmã e
                  um irmão. O irmão mais novo da Josefina vivia connosco e, mais tarde, os pais
                  dela também, antes de regressarem a Portugal.

                  No respeitante  à chegada dos  meus irmãos, primeiro veio o  Manuel. Era  um
                  apaixonado pelo  futebol como eu.  Chegou a jogar aqui nos EUA numa equipa
                  profissional, chamada “Cosmos”. Mas, como não falava Inglês, acabou por desistir
                  do futebol. De seguida, o meu pai veio cá trazer o meu irmão Joaquim. Depois,
                  veio cá visitar-nos o Abel que acabou por ficar. Mais tarde, veio o Amândio, sendo
                  o último o Zeferino. Este é o mais novo dos seis irmãos, sempre foi muito chegado
                  aos nossos pais, daí ter levado mais tempo a emigrar para os EUA.
                  O negócio que criei com dois amigos manteve-se em atividade por alguns anos
                  até que os sócios quiseram regressar a Portugal. Estávamos nos finais da década
                  de 70 e eu já tinha três filhas, todas elas nascidas em Long Island.
                  Vivíamos nos EUA com o coração em Portugal, daí nunca termos abandonado a
                  nossa cultura. Para que a comunidade, no Estado de Nova Iorque, se mantivesse
                  unida, decidi criar, juntamente com um grupo de amigos, uma equipa de futebol
                  europeu, composta  por emigrantes portugueses que viviam naquela área.  A
                  qualidade desportiva  revelada  por esta equipa foi de  tal forma  significativa e o
                  espírito de união e patriotismo eram tão fortes que, desde cedo, estes jogadores
                  começaram a acumular vitórias e troféus que os conduziram à primeira divisão do
                  Estado de Nova Iorque e ao Campeonato  final dos  EUA.  Esta atividade
                  futebolística,  para  além  de mostrar o  potencial  dos portugueses para o futebol,
                  revelou à própria comunidade que  a união  faz a  força e que  os portugueses
                  tinham todas as capacidades para atingirem os seus objetivos e para serem uma
                  comunidade de referência. O clube de futebol criado na altura pela comunidade
                  portuguesa, Farmingville Soccer Club, é, ainda hoje, considerado  o melhor Centro
                  Comunitário Português do Estado de Nova Iorque.
                  Para além do trabalho, passavámos o tempo à volta do Clube e da comunidade
                  portuguesa. Com amigos e familiares costumávamos ir até à cidade de Nova
                  Iorque,  mais precisamente  à ilha  de Manhattan.  Era sempre bom  passear em
                  Times Square e visitar o Central Park. Recordo um dia em que eu e a Josefina
                  fomos para Nova Iorque com  uns  amigos. Decidimos apanhar uma daquelas
                  charretes puxadas a cavalos que dão a volta ao parque. Estava um frio de rachar.
                  As mulheres com roupas mais leves, de cerimónia, não conseguiam suportar as
                  baixas temperaturas que se faziam sentir. Então, o condutor da charrete cobriu-as
                  com a manta com que cobria os cavalos, quando estavam parados, protegendo-os
                  do  frio. A manta soube-lhes muito bem enquanto  a  viagem  durou. O  problema
                  mesmo  foi quando chegamos  ao  hotel. Com o calor do hotel  acentuou-se, na
                  roupa  das mulheres,  um cheiro terrível a  cavalo, cheiro esse que nunca  fora
                  notado por elas devido ao frio que se fazia sentir na rua. Era tão intenso o cheiro
                  que as mulheres tiveram de se desfazer dos vestidos. Não havia maneira de lhes
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