Page 20 - Jose Morais Autobiography Book 1
P. 20
terreno em nada facilitaram a nossa vida. Viviam-se tempos em que o amiguismo
e os favores trocados entre pessoas influentes ainda imperava.
Apesar da pouca experiência que eu e o meu irmão tínhamos na área da
produção alimentar, lutamos com todas as nossas forças e fizemos crescer os
negócios, fruto do nosso trabalho árduo. Assim, conseguimos levar por diante os
nossos objetivos. Contudo, a alta inflação que se fazia sentir, nos anos oitenta, em
Portugal também não ajudou ao desenvolvimento total das empresas. O nosso
relativo sucesso e a nossa dinâmica empresarial fizeram estremecer a
concorrência que se sentiu ameaçada com a nossa presença. Começamos a ser
perseguidos pelas empresas com história e passado na zona.
Nas nossas vidas, tudo era uma luta, um sacrifício. Quer eu quer o meu irmão
Abel percebemos muito cedo que Portugal não era o país das oportunidades.
Estávamos literalmente a perder o nosso tempo e energia num país que não
merecia o nosso esforço. Percebemos também que o nosso futuro estava, sim,
nos EUA.
Passado um ano e meio, o meu irmão Abel resolveu regressar aos EUA com a
sua mulher e filhos. Estabeleceu-se em Manassas, Virginia, onde criou uma
empresa de construção civil – Virgínia Contractors Supply -, a qual ainda está no
ativo, gerida pela viúva do meu irmão Abel, já falecido, e pelos filhos. A partida do
meu irmão e família deixou-nos um pouco abalados. As minhas filhas ficaram mais
tristes, com saudades dos primos, a Josefina sentiu-se mais só e os meus pais
sofreram com a partida dos netos, da nora e do filho. Perceberam que o filho Abel
e família estavam numa viagem sem possibilidade de regresso definitivo a
Portugal.
Eu permaneci em território nacional por mais cinco anos e meio, na esperança de
ver o negócio crescer e de ver a situação do país a melhorar. Durante este tempo,
foi muito salutar ver as filhas a crescer no seio da família, com os avós de ambos
os lados sempre presentes. Com os meus pais vivos e com saúde, esta foi uma
altura das nossas vidas que nos deixa muitas saudades. Nunca me arrependo de
ter voltado e de ter oferecido esse tempo de reencontro e convivência familiar às
minhas filhas.
Em Curalha, as filhas frequentaram a escola primária que eu havia frequentado
décadas antes. Foram depois para o Liceu em Chaves onde as duas mais velhas
estudaram até ao 8º ano e a mais nova até ao 5º ano. Os estudos em Portugal
foram outra vantagem desta passagem por Portugal, pois permitiram o
aprofundamento da aprendizagem da Língua Portuguesa. Hoje as minhas filhas
são fluentes na Língua de Camões, falam, lêem e escrevem bem português, o que
muito nos orgulha.
Em Portugal, o meu dia a dia profissional não era fácil. Como gerente das
empresas, andava sempre em viagem. Ora para ir negociar ao Porto os produtos
para o nosso armazém de vendas ora para acompanhar a laboração e distribuição
dos refrigerantes por nós produzidos na fábrica que compramos.
Os momentos de lazer eram preenchidos com viagens a acompanhar o Desportivo
de Chaves, que chegou a pertencer à primeira divisão. Com o Clube percorri o