Page 15 - Jose Morais Autobiography Book 1
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Entrei ilegal nos EUA, mas vistas bem as coisas a ilegalidade não foi assim tão
grave porque eu era neto de um cidadão americano, nascido em Massachusetts.
Para todos os devidos efeitos, esta minha vinda para os EUA foi também um
regresso às minhas origens.
Depois de passar os serviços alfandegários no aeroporto de JFK, apanhei mais
um avião e rumei até Boston, num voo da TWA. No aeroporto de Boston
esperava-me a minha querida mulher Josefina. Esta vivia em New Bedford,
Massachusetts, para onde nos dirigimos. Foi com grande emoção que reencontrei
a Josefina, o meu sogro e a minha cunhada, irmã gémea da Josefina
Com pouca demora comecei a trabalhar numa fábrica de calçado. Neste emprego
fiquei pouco tempo, porquanto o meu desejo era subir na vida e aprender mais
com trabalhos que me desafiassem. Em busca de um trabalho que me realizasse
mais, abracei várias profissões. Trabalhei numa fábrica de material de guerra, bem
como numa fábrica de fazer caixas de velocidades para carros.
Alguns meses mais tarde, quando já sabia falar melhor Inglês, fui trabalhar para
uma fábrica de casacos. De seguida, ingressei na escola noturna e iniciei a
profissão de canalizador. Também trabalhava num posto de gasolina.
Para além de trabalhar, uma das primeiras coisas que fiz em New Bedford foi
fazer-me sócio no clube português mais antigo nos EUA, chamado “Recordações
de Portugal”, onde iniciei a minha carreira futebolística neste país. Era a realização
de um sonho antigo: poder jogar livremente sem ter o pai a proibir-me porque era
preciso ir ajudar a mãe ou os irmãos. O futebol ajudou-me imenso na integração
na nova cultura. Era um escape para o stress e a pressão do dia a dia.
Como podeis ver, os primeiros anos, na terra das oportunidades e do self made
man, não foram nada fáceis.
Depois de dois anos em Massachusetts, estado caracterizado por uma forte
concentração de açorianos, comecei a trabalhar na construção civil em
Farmingville, cidade situada em Long Island, no Estado de Nova Iorque, onde
tinha algumas pessoas conhecidas e amigas, oriundas de Portugal Continental.
A minha mulher, nos primeiros tempos, manteve-se em Massachusetts com a sua
família e eu quase todas as semanas ia visitá-la. Também ela me vinha visitar.
Numa destas visitas da Josefina a Long Island, a nossa filha mais velha nasceu
dois dias após a sua chegada. Era uma bebé linda e saudável que muita alegria e
emoção nos deu.
O trabalho de construção civil em Farmingville, Long Island, New York, onde
existia uma pequena comunidade portuguesa, começou pela mão de um amigo
que me veio buscar a New Bedford. Falo do saudoso José Covas Olívia. Este
amigo foi mais do que um pai para mim nos EUA. Entre nós os dois sempre houve
uma grande amizade e respeito mútuo.
Cada vez mais me sentia à vontade na língua inglesa. Então, passados alguns
meses, após a minha chegada a Nova Iorque, criei, com dois sócios, a minha
primeira companhia de construção civil por conta própria.