Page 10 - Jose Morais Autobiography Book 1
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aquele ambiente fechado, onde não havia espaço para o convívio com o género
                  feminino. Na primeira oportunidade que encontrei, abandonei o Seminário e rumei
                  a Chaves.

                  A partir deste momento, tudo se complicou para mim em casa dos meus pais. Eu
                  só queria namoriscar e jogar futebol, coisa que o meu pai não permitia porque eu
                  tinha que ajudar a minha mãe na mercearia e tinha também que ajudar os meus
                  irmãos, pois o meu pai continuava com o trabalho de taxista, o que o mantinha
                  quase sempre fora de casa.
                  Como filho mais  velho  sempre recaiu  na  minha pessoa a responsabilidade de
                  servir de bom modelo, de  os encaminhar na vida e de ajudar os pais no
                  crescimento dos mesmos.  Esta incumbência atormentou-me na  infância,  pois o
                  que eu queria era brincar, ser eu próprio, com o frenesim e a agitação interiores
                  que sempre me acompanharam. Gostava de brincar com os amigos pelas terras
                  nortenhas, sem responsabilidade. Jogar à bola era o que mais amava na vida.
                  Mas aí vinham os  meus pais, todos  os dias, lembrar-me  que este ou aquele
                  comportamento não era digno de  um irmão mais velho. Foi  difícil assumir este
                  papel e confesso que, em muitos momentos, não fui aquele irmão virtuoso com
                  que sonharam os meus pais. Mas fui, certamente, o irmão presente e preocupado
                  com o futuro de cada um deles e das suas famílias.
                  A atividade que mais alegria me dava era jogar à bola. Muita sova apanhei do meu
                  pai quando este descobria que eu tinha estado a jogar à bola. Joguei durante anos
                  no Desportivo com grande habilidade para o futebol, sempre sem o meu pai saber.
                  A minha mãe sabia e era mais compreensiva com toda a minha situação. Para o
                  meu  pai, não havia cá meias conversas quando se tratava de trabalho  e
                  educação. Nestas duas matérias era um autêntico ditador. Eu tinha de ajudar a
                  mãe e tinha de estudar, desse por onde desse.
                  No meu pensamento de adolescente, entre os 12 e os 15 anos, sempre sonhei em
                  emigrar para os EUA, país onde, recordo, tinha nascido o meu avô paterno. Os
                  EUA  sempre fizeram  parte do meu  imaginário  infantil e de  adolescente.
                  Curiosamente, tive duas namoradas que inclusivamente partiram para este país
                  como emigrantes.

                  Por esta altura, em  que também começou a emigração ilegal para França,
                  regressei à Escola para continuar os meus estudos. O meu pai, como taxista,
                  ajudou centenas de  pessoas a passar a fronteira de Portugal a caminho  de
                  Espanha, onde outros passadores de  emigrantes clandestinos  os levavam até
                  França.
                  No ano de 1966, uma nova família, vinda de um lugar perto de Curalha, comprou
                  uma quinta na nossa freguesia e lá passou a viver. Era uma família grande como a
                  nossa, composta por pai (Alberto  Alves), mãe (Conceição Gomes), cinco  filhas
                  (Maria, Fernanda, Josefina, Leonor e Conceição) e três filhos (João, José  e
                  Carlos).
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