Page 14 - Jose Morais Autobiography Book 1
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Momento do brinde do casal na boda
Depois do casamento, começamos a tratar dos papéis para que eu pudesse
emigrar para os EUA, acompanhando a minha esposa. De imediato descobrimos
que já não podia sair do país. Foram feitos muitos pedidos junto de gente influente
pelo meu pai, também ele conhecedor de meio mundo e de gente importante da
altura. Nada se conseguiu fazer para que a autorização para eu emigrar chegasse.
Entretanto, a minha mulher Josefina regressa aos EUA. Em situação de
desespero, entrei em contato com familiares de pessoas que haviam partido para
os EUA ilegalmente. De posse do conhecimento de como agir, pedi ao meu pai
que me levasse até Espanha. Tudo estava combinado para o passador de
emigrantes ilegais me levar até à fronteira com França. Na fronteira entre Espanha
e França tudo se complicou. Fui preso por uma noite. No dia seguinte, já em
liberdade, apanhei um táxi de um português e fomos à procura de outro posto
fronteiriço mais distante. Aí consegui apanhar um comboio que me levou até Paris.
Na capital francesa, encontrei-me com o passador que deveria agilizar os
documentos de que necessitava para partir para os EUA. Porque não tinha
passaporte para partir para os EUA, o passador, um português que vivia em
França, ficou de me arranjar um documento falso. Mais uma vez fiquei em apuros
quando soube que o passador em espanhol não havia entregue ao passador
francês o dinheiro que o meu pai lhe havia confiado para esse efeito. Havia que
agir com celeridade. Liguei para o meu pai a explicar a situação. Este logo se
prontificou a mandar novo dinheiro, mas as comunicações eram difíceis e o
dinheiro não chegava. Estávamos a dois dias do Natal e eu sem hipóteses de sair
de França. Vendo a minha situação de fragilidade, o passador lá me convenceu a
ligar para a minha mulher, nos EUA, a pedir-lhe que enviasse o dinheiro. Na
opinião dele seria mais rápido. Assim o fiz, mas o dinheiro vindo dos EUA também
levava tempo a chegar a França.
Resolvi, então, regressar a Portugal para apanhar o dinheiro e voltar a Paris.
Assim procedi com o risco de ser preso mais uma vez e ter de regressar a
Portugal, onde me aguardava o serviço militar nas colónias ultramarinas.
Felizmente, tudo correu bem desta vez. Paguei ao passador e este colocou nas
minhas mãos um passaporte falso.
A PRIMEIRA PARTIDA PARA OS EUA
Tinha eu 17 anos quando, em Paris, recebi um passaporte de um cidadão
caboverdeano de 26 anos. Havia uma grande diferença de idades entre a minha
pessoa e o sujeito do passaporte falso, mas, graças a Deus, tudo correu bem. Em
Paris fui, com o tal passador português que vivia em França, de carro para a
Holanda, mais precisamente para Amesterdão. Da Holanda, parti para Nova
Iorque, num voo da KLM. Nova Iorque foi a cidade da minha entrada nos EUA com
um documento falso que me garantiu a liberdade e o reencontro com a minha
mulher no dia 31 de dezembro de 1968.