Page 57 - LIVRO - FILOSOFIA COMO REMÉDIO PARA A SOLIDÃO - PUBLICAR
P. 57
Djason B. Della Cunha | 57
m alguma parte do Templo de Delfos, dedi-
cado ao deus Apolo, havia uma inscrição
E
que dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Esta
10
frase, cuja autoria é atribuída a Sócrates , é tida como
uma advertência que visava incitar o homem a reco-
nhecer os limites de sua própria natureza e a não dese-
jar o que era próprio dos deuses. Os gregos têm uma
palavra para isto: hybris ou hubris, que pode ser tradu-
zida como “excesso”, “descomedimento”, e que na lin-
guagem atual faz alusão a uma excessiva confiança em
si mesmo, a um estado de orgulho exagerado, expresso
numa atitude de arrogância, presunção ou insolência,
que desperta a ira dos deuses e a punição do descome-
dido.
Na antiguidade grega se cultivava o desprezo por
aquele que, de forma presunçosa, unia ao seu espaço
pessoal a falta de controle sobre os próprios impulsos,
10
. O primeiro filósofo que conduziu uma investigação sobre a necessi-
dade de se buscar um autoconhecimento – apesar das discussões sobre
a autoria dessa ideia – foi Sócrates. Nascido em Atenas entre 470 e 469
a.C., Sócrates era filho de Sofronisco, um escultor, e Fenáreta, que se
dedicava a assistir às mulheres em seus partos. Daí a origem de seu
nome: “Aquela que dá luz à virtude”. A atração que Sócrates exercia so-
bre os seus concidadãos não tinha por base a sua aparência, pois era
homem de compleição baixa, com um nariz achatado, olhos esbugalha-
dos, lábios grossos e carnudos e um ventre avantajado. Dotado, porém,
de refinada cultura e de uma exímia capacidade de interlocução, Sócra-
tes impressionava a todos que dele se acercavam visando desenvolver
a capacidade de raciocínio e do senso crítico.