Page 9 - ASAS PARA O BRASIL
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A família chegou em setembro e foi morar em Aprazível, bairro de
                  Santa  Teresa,  que  era  então  um  dos  bairros  mais  bucólicos  do  Rio  de
                  Janeiro, com uma vista inexpugnável e grandiosa sobre a baía mais linda
                  do mundo. “Deus é o artista e o Rio a sua obra prima” costumam dizer os
                  brasileiros.


                  Santa Teresa era chamada de “Montmartre Carioca”.

                  Um mosteiro de Carmelitas foi construído no século XVIII. Nos dias de hoje
                  encontra-se uma metrópole onde a religião católica divide espaço com os
                  rituais da “Macumba”, que designa o conjunto de cultos afro-brasileiros.


                  A casa era grande e toda branca, ela se sobressaia majestosamente sobre a
                  baía do Rio, seu estilo poderia definir-se como uma mistura de neogótico
                  colonial.

                  De longe, enxergávamos o Cristo do Corcovado que, com os seus braços

                  abertos,  parecia  querer  proteger  e  benzer  a  cidade  do  Rio  e  acolher  as
                  misérias do mundo.

                  Durante as tempestades, os raios clareavam o céu na escuridão da noite;
                  era a representação assustadora de um inferno tropical acompanhada por
                  trovoadas tão assustadoras quanto ensurdecedoras.


                   Tínhamos o costume de esconder-nos debaixo de nossas camas, tamanho
                  era o medo.

                  Ao  anoitecer,  os  “balões  de  fogo”,  pequenos  balões  cintilantes  de  cor
                  dourada, começavam a sua corrida balançando sobre a majestosa Baía de
                  Guanabara até desmaiar nas profundas trevas.


                   A natureza luxuriante e fascinante que estava ao nosso redor me ensinou,
                  às  minhas  custas,  a  desconfiar  das  lagartas  e  outros  bichos  de  aspecto
                  mágico, mas muitas vezes dolorosamente venenosos.

                  Com o Carnaval se aproximando em fevereiro, os sons repetidos sem trégua
                  e cada vez mais frenéticos dos ritmos do samba invadiam alegremente a

                  atmosfera do entorno. Eu tentava imitar os nativos me contorcendo como
                  uma  minhoca,  mas  o  resultado  deste  espetáculo  certamente  não  era  o
                  mesmo que os requebros sensuais e dançantes de nossos vizinhos.

                  Sobrou o meu gosto pela dança.
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