Page 77 - Nos_os_bichos
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Mãe e filho levantaram-no e prepararam-se para comer a raposa. Depois, seguiram para a floresta
amazónica, sabendo que ainda lhes faltavam muitas semanas e muitos meses de viagem. Passaram por muitas
dificuldades, por muita chuva e muito mau tempo, muita fome e muito sofrimento.
Mas a vida tem fases e depois da tempestade vem a bonança: foi assim que os leões chegaram
finalmente àquela terra cheia de serenidade e de fartura e perceberam que todo o sacrifício tinha valido a pena!
Mário Lopes
Uma formiga
O final do verão aproximava-se. Como sempre, as formigas dedicavam a maior parte do seu tempo à
procura de mantimentos para sobreviverem no inverno. Estes insetos encontravam comida aqui e ali e, de
seguida, levavam-na para o formigueiro, sempre muito organizadas, obedecendo às ordens da rainha da sua
colónia. Mas, apesar de serem trabalhadoras incansáveis, nem todas as formigas pensavam da mesma maneira,
o que, por vezes, podia originar alguns problemas.
Um dia, uma certa formiga, conhecida por ser desobediente e invejosa, afastou-se das outras e foi à
procura dos seus próprios mantimentos, achando que, assim, iria conseguir mais mantimentos e não teria que
os partilhar com ninguém.
Assim fez. Encontrava migalhas aqui e ali, mas nada que ela achasse valer a pena, por isso, foi
continuando até que, num parque de merendas, encontrou, no chão, muitos mantimentos. Era um paraíso!
Nunca vira tanta comida junta. Começou logo a imaginar-se no inverno, sentada na sua mini-poltrona, a encher
a barriga, sem fazer mais nada, sem obedecer a ninguém… Ela sabia que aquela quantidade daria para, pelo
menos, dez formigas, mas decidiu ficar com tudo só para si, imaginando-se já num formigueiro só seu!
Enquanto guardava a sua comida num pequeno túnel que, para já, servia de dispensa, apareceu perto
dela uma cigarrinha pequenina, que lhe disse:
- Ó formiguinha, tens aí tanta comida!
- Pois tenho. - disse a formiga.
- Por favor, podias dar-me um bocado da tua comida? Eu tenho fome.
-Vai procurar comida para ti, que esta é minha. - respondeu-lhe.
-Estou com muita fome, não tenho forças para andar por aí. Por favor, dá-me um pouco, só para eu
ganhar forças. Quando estiver melhor, eu procuro comida e dou-te um pouco.
-Sei bem que não o vais fazer, agora vai-te embora.- disse-lhe, impaciente.
Algum tempo depois, o inverno chegou, e a formiga, apesar de ter dias em que se sentia sozinha e
confusa, quando olhava para os seus mantimentos, enchia-se de orgulho, pois estava a ter um belo inverno,
com muita comida, toda só para si!
-Ai, que maravilha. Tenho comida que chegue para os dias mais frios. Ainda bem que não dei nada
àquela cigarra. Ainda me roubava metade da comida! Ainda bem que apaguei o rasto para este esconderijo,
assim as formigas do meu antigo formigueiro não encontram a minha comida!
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