Page 9 - Nos_os_bichos
P. 9
O seu pai, o rato Fernando, tinha uma forte ligação com o filho e sempre lhe contara a história da
existência de um sexto bairro na zona onde eles viviam, mas que agora se encontrava soterrado. Pai e filho
fizeram várias pesquisas para tentarem encontrar esse misterioso bairro…
Certo dia, o ratinho Pedro estava na escola, quando foi dado o alerta para uma tragédia que acabara de
matar muitas pessoas e animais na sua cidade. Por causa disso, a escola acabou mais cedo e ele foi para casa.
Quando chegou a casa, a sua mãe contou-lhe o que acontecera e, com os olhos cheios de lágrimas,
acrescentou que o seu pai tinha sido vítima de uma explosão. Pedro fugiu para o seu quarto e, nessa noite,
chorou muito, chorou como nunca tinha chorado na sua vida. Não sabia fazer nada sem o pai. O pai só não ia
com ele à escola. Não se lembrava de ter dado um passeio sem ele, de ter ido ao parque sem ele… Como iria
sobreviver?
O tempo foi passando, até que, farto de sofrer e temendo perder as memórias relativas ao seu pai, o
ratinho Pedro resolveu que tinha que fazer algo: ganhou coragem e foi bisbilhotar o armário onde o pai guardava
as suas lembranças e – imaginava o Pedro – onde guardava alguns segredos. Enquanto remexia por entre as
relíquias do pai, sem querer, quebrou uma pequena jarra azul. Ai que azar!, pensou. Mas eis que,
inesperadamente, entre os caos, viu um envelope com o nome “Fernandes” escrito e uma misteriosa chave lá
dentro. Pedro arrumou tudo rapidamente, colocou a chave no bolso e decidiu não contar nada a ninguém sobre
a sua fantástica e inquietante descoberta. Entretanto, começou a fazer várias pesquisas sobre o apelido
“Fernandes” e acabou por relacionar logo a chave com o sexto bairro da sua cidade, o tal misterioso bairro que
tinha sido soterrado.
Pedro passou dias à procura nas listas telefónicas, a marcar moradas no mapa, até que decidiu que já
era altura de ele sair à rua e ir em busca do que tanto procurava: a fechadura daquela chave.
O ratinho encheu-se de coragem e, durante esta caminhada, enfrentou quase todos os seus medos. Foi
de casa em casa falar com todos os “Fernandes”, encontrou patos, esquilos, lobos, coelhos e outros animais. A
única caraterística comum: acabava sempre por ouvir a história de vida de cada um e saía sempre desiludido,
pois ninguém sabia nada sobre a misteriosa chave.
O tempo ia passando, com dias melhores e dias piores…
Às vezes, Pedro, de tão infeliz e ansioso que andava, até dizia coisas de que se arrependia. Foi o que
aconteceu num certo dia em que o nosso ratinho teve uma grande discussão com a sua mãe Joana, que queria
conversar com o filho sobre a causa das suas longas ausências de casa. Angustiado e revoltado, sem querer
contar à mãe nada sobre a misteriosa chave e a sua investigação, deu por si a dizer que ela não mandava nele,
a insinuar que ela nunca tinha amado o seu pai, que ela estava mais distante que nunca e que deveria ter sido
ela a morrer no lugar do pai.
Tanto Pedro como Joana choraram bastante e durante algum tempo, mas Pedro, claro, acabou por pedir
desculpas à mãe e prometeu que iria tentar passar mais tempo em casa.
Contudo, esse dia infeliz acabou por se tornar bastante revelador. É que, no final do dia, quando retomou
a sua investigação, Pedro descobriu o seu último “Fernandes”, um velho sapo.
9