Page 12 - Nos_os_bichos
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conseguia sequer seguir-lhe o cheiro. Tinha perdido a única oportunidade de finalmente comer alguma coisa em
                  dias!
                        Passei o resto do dia a tentar caçar alguma coisa, mas eu estou muito fraco, não vale a pena tentar
                  correr atrás das presas, elas tornaram-se mais fortes que eu.

                        Já estava a ficar escuro e eu já estava tão cansado que até um simples coelho seria capaz de me caçar.
                  Procurei um sítio seguro para dormir, mas o sono e o cansaço fizeram com que eu me deitasse perto de uma
                  rocha qualquer, no meio do trilho.
                        Acordei a meio da noite a ouvir um barulho ameaçador perto de mim. Senti o bafo quente de algo ou de

                  alguém no meu focinho, bem perto. Abri os olhos lentamente e afastei-me para conseguir observar o que quer
                  que me estivesse a rodear.
                        -O que é que tu pensas que estás a fazer aqui, Bolt?- Uma voz profunda e selvagem ecoou perto dos
                  meus ouvidos.

                        Olhei para cima e deparei-me com um lobo enorme, bem formado, velho mas, mesmo assim, muito forte
                  e intimidante. Levantei-me, tentando esconder o meu medo e mostrando-me forte e seguro, o que não era
                  verdade. Eu não queria lutar com a alcateia a que pertencia este lobo enorme, pelo que tentei pedir desculpa e
                  mostrar-me pacífico, antes que eles pensassem em matar-me por estar a invadir o seu território.

                        -Eu estava desatento, por isso não reparei que tinha chegado até aqui…– disse, a medo.
                        Entretanto, fui interrompido, quando ele saltou para cima de mim e me espetou as garras como um
                  predador faz sobre a sua presa.
                        -Devias andar com a tua alcateia, garoto.- disse o lobo, com ar provocador.

                        -A minha alcateia? Está longe agora. – disfarcei, tentando ganhar tempo.
                        -Longe?! – soltou uma gargalhada falsa e irónica.
                        Os outros lobos começaram a rir também. Senti as garras dele a entrarem no meu corpo e a rasgarem a
                  minha pele, como se fosse a carne tenra de um pintainho.

                        – É o teu dia de sorte, então. – gritou.
                        Observei-o com um olhar confuso e esperei que ele se explicasse.
                        – Um lobo solitário, então? Eu sabia que a tua mãe nunca ia conseguir tornar-te num lobo a sério.
                        -Quem és tu? Como é que me conheces? És tu, pai? – perguntei, confuso.

                        - Pessoal, parece que este se esqueceu do exército. – acrescentou ele, com ar irónico.
                        O velho saiu de cima de mim e os risos voltaram maliciosamente, enquanto me rondavam de uma
                  maneira aterrorizadora. Procurei um espacinho para escapar, mas o círculo era apertado. Comecei a ouvir
                  rugidos atrás de mim, coloquei-me em posição de defesa e um grande número de lobos furiosos saltaram para

                  cima de mim para me fazer pagar pelo  meu atrevimento. Uma mordida na pata traseira, uma mordida no
                  pescoço, arranhões pelo corpo todo… Senti-me como se estivesse a ser queimado vivo. A dor era insuportável!
                  Já não oferecia defesa, estava pronto para ser atingido pelo meu destino.









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