Page 13 - Nos_os_bichos
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De rompante, entre as árvores vi um corvo que olhava para aquela situação
e depois voava para longe. Sou insignificante para esta floresta. Fecho os olhos
com força e trinco a língua, ignorando os comentários e as dores. O canto dos
corvos vem do meio da floresta em direção a nós e já sei o porquê de eles estarem
a vir.
De repente, os lobos afastam-se de mim, inesperadamente. Levanto-me e
observo-os: os corvos não estavam a devorar-me, estavam a atacar a alcateia e,
aparentemente, também a tentar atacar-me a mim. Saíam disparados do céu e
acertavam nos lobos como flechas. Era a minha oportunidade para fugir. Mas tornava-se difícil com tudo o que
aqueles satânicos me tinham feito. Corri o mais rapidamente que consegui, mas não demorou muito tempo até
os corvos me alcançarem. Fiquei assustado e tentei correr mais rápido, tentei esconder-me, mas eles estavam
por todo o lado e eu já estava desfeito, era a presa perfeita para animais necrófagos. O bando era grande. Muitos
pássaros estavam parados nos ramos das árvores e olhavam para mim sem qualquer expressão no rosto, só
me seguiam com os olhos negros, profundos e ameaçadores. Outros começaram a gritar para que eu parasse,
mas eu não iria render-me de novo. Começaram a formar uma nuvem negra à minha frente, impedindo-me de
passar. Depois, um dos corvos saiu do meio da nuvem espessa e dirigiu-me a palavra:
- Eu sou o Jack. Não precisas de ter medo do nosso bando, nós já conhecemos muitos lobos como tu.
- Como assim? Como eu?
- Lobos solitários que não conseguem desenrascar-se sozinhos.
- Ei, eu consigo sobreviver sozinho, não sou como esses cãezinhos!
- Não foi o que nós vimos há pouco, Bolt. Não precisas de tentar atacar. Como já reparaste, somos muitos
e tu não estás propriamente em bom estado. Espero que tenhas entendido que também não temos nenhum
problema em acabar contigo, por isso, nada de esquemas! Vem connosco.
Engoli em seco. Eu sei que são só uns passarinhos, mas o modo como eles atacaram os outros lobos e
como falaram para mim intimida qualquer um… Eu não confio neles.
- Para onde?- perguntei.
- Para casa.
Não valia a pena oferecer resistência. Tinha a sensação de que eles me conheciam bem, mas eu nunca
tinha ouvido falar neles. No entanto, numa coisa ele estava certo: eu não seria capaz de os derrotar sozinho.
Segui-os até um lugar longe da floresta, um sítio isolado, escuro e sombrio. O que se podia esperar? São corvos.
Jack voltou-se para mim, abanou a asa e as minhas feridas sararam rapidamente.
- O quê? Obrigado…- agradeci, confuso.
Depois o líder dos corvos disse-me:
- Esta é a tua nova casa. Nós chamamos-lhe “ A casa dos lobos”.
- Não quero ser desmancha-prazeres, mas eu sou o único lobo aqui.
- Isso é o que tu pensas. Vê.
Jack e os outros corvos começaram a “cantar” e lobos apareceram de todos os cantos. Mas não eram
lobos vulgares. Estes lobos tinham um ar triste, mas, no seu olhar, era possível distinguir um sentimento de pura
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