Page 18 - Nos_os_bichos
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gozada pelos seus colegas de turma devido a ser uma estranha que caíra ali de para-quedas. Esta situação
afetou bastante Hiena. As suas notas baixaram drasticamente e a sua maneira de ser sofreu alterações. Nessa
fase da sua vida, Hiena sentia-se extremamente sozinha e, revoltada, começou a fazer exatamente o mesmo
que lhe faziam, que era, infelizmente, o contrário daquilo que devia fazer. Foi assim que se tornou uma tigresa
rude, mal-educada e egoísta. No que é que me estou a tornar? Que deceção!, pensava por vezes, mas
continuava, dominada pelo orgulho.
Uma tarde, na sua savana, Hiena foi abordada por um tigre da sua universidade. Não era um tigre
qualquer. Desde que Hiena entrara na universidade, ele andara sempre a infernizar-lhe a vida e ela respondia
sempre na mesma moeda. Vendo Hiena, o tigre achou que era uma ótima oportunidade para a rebaixar,
começando a ofendê-la e a magoá-la psicologicamente. Revoltada e cheia de raiva, Hiena atacou-o
violentamente. Foi uma luta terrível e desigual, pois o tigre era mais forte e mais violento do que ela, tendo Hiena
ficado com um aspeto feio e desprezível, com os dentes partidos, com mazelas e feridas que nunca sararam.
Nesse dia fatídico e infeliz, a jovem tigresa transformou-se para sempre e o seu olhar tornou-se assustador.
Quem disse que a ruindade dos outros não pode juntar-se à nossa natureza, tornando-nos piores?
Hiena foi expulsa da savana e nunca mais ninguém a viu pelas redondezas.
Muitos anos mais tarde, conseguiu finalmente esquecer esta terrível fase da sua vida. Lentamente, muito
lentamente, todo o seu ser se transformara, não só por dentro, mas também por fora. O seu aspeto tornou-se
feio e desprezível, os seus dentes ficaram longos e irregulares, o seu pelo mudou de cor, as suas orelhas ficaram
maiores e pontiagudas e o seu olhar tornou-se assustador. Ou seria apenas assustado? Por dentro, contudo,
sentia-se melhor, mais calma e mais serena, apesar de reagir mal à companhia e preferir o isolamento. Foi então
que percebeu que se tornara numa espécie à parte, que o mal que os outros lhe fizeram a transformara, mas
que isso podia ter um lado positivo, poderia ensiná-la a tornar-se
melhor. Começou a perceber também que, apesar de tudo, o
isolamento tinha vantagens e que a violência nunca poderia ser a
sua primeira escolha. Vagueando pelo mundo, foi encontrando tigres
que também foram excluídos das suas casas e das suas
comunidades e, juntamente com eles, criou o seu próprio grupo e a
primeira geração de hienas: os animais excluídos da sociedade,
devido ao mal a que esta os sujeitara.
Carolina Damásio
Os dois gatos
Era uma vez dois gatos, totalmente distintos: um vivia numa casa quentinha e os donos davam-lhe de
tudo, menos carinho; o outro vivia na rua e alimentava-se do lixo que encontrava nos caixotes espalhados pela
rua e da comida que as pessoas lhe davam quando passavam. Essas pessoas gostavam muito do gato e davam-
lhe carinho sempre que podiam.
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