Page 22 - Nos_os_bichos
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-Se calhar, tens razão. Mas não sei se deva, pois, como sabes, eu tenho problemas de ansiedade.
Quando estão muitos animais a olhar para mim, fico muito nervoso e as minhas patas começam a tremer sem
parar.
Aníbal passou a pata pela testa, que já escorria água, só de pensar em tal situação, e ainda acrescentou:
-Imagina que me esqueço da letra da canção perante todos os que estão a assistir ao espetáculo?
Mas a joaninha lá continuou a tentar convencer o gafanhoto a participar, com a intenção de, naquele dia,
mostrar aos outros que era bem melhor do que ele.
-Não podes pensar de forma tão negativa. Tens de pensar que vais dar o teu melhor e que tudo vai correr
bem. Afinal, o mais importante não é ganhar, mas sim participar e mostrares aos outros a tua bela voz.- disse
com voz sedutora mas enganosa.
-Tens razão, tenho de acreditar mais em mim próprio!- exclamou o gafanhoto, convencido de que a
joaninha queria o seu bem.
E dito isso, começou a andar para se ir embora, acrescentando:
- Vemo-nos lá, então.
Foram várias as noites que o gafanhoto passou sem dormir só de pensar que ia ter muitos animais a
olharem para si e a ouvi-lo cantar.
Quando chegou o dia do concurso, Aníbal subiu ao palco mas, à primeira tentativa, não se sentiu capaz
de cantar perante tantos animais que ali estavam. Quem lhe valeu foi um dos seus amigos: o mocho, que era
bastante sábio, conseguiu, com um simples segredo, convencer Aníbal a não desistir. Então, o nosso gafanhoto
encheu-se de coragem, voltou ao palco e cantou de forma fantástica, acabando por ganhar o concurso.
O curioso é que a conversa preferida dos animais da floresta
não foi sobre Aníbal ter vencido o concurso, mas sim sobre o que lhe
teria dito o sábio mocho, que lhe deu tamanha coragem para
participar e ganhar!
Moral da história: Quem não desiste dos seus objetivos mais
cedo ou mais tarde acaba por conseguir alcançá-los.
Francisco Antunes
A raposa e a lebre
Numa floresta muito longe e isolada de todos os outros locais, havia uma jovem, pequena e frágil raposa
cuja mãe havia morrido numa feroz luta contra o maior lobo da zona.
A pequena órfã lutava muito para conseguir arranjar comida e água para o seu sustento. Para além disso,
decidira que não haveria de matar animais e que só se alimentaria de ervas e de plantas, o que tornava a sua
subsistência muito mais difícil.
Numa certa tarde, quando procurava comida, deparou-se com uma enorme lebre que, do alto de um
penhasco, lhe perguntou, com ar de gozo:
- O que fazes nesta região, sozinha, pequenota? Não me digas que me queres apanhar para o almoço?
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