Page 26 - Nos_os_bichos
P. 26
triste. E assim foi. Tudo acabou entre a Tita e o Pepas naquela manhã. Ele ficou destroçado, mas com a
consciência tranquila, pois sabia que fizera aquilo que tinha de ser feito.
Mais tarde, numa conversa com o seu amigo António, o Pepas foi um pouco mal-educado e, falando-lhe
de forma arrogante, disse que nunca mais o queria ver, pois ultimamente tinha seguido os seus conselhos e
nada dava certo. Esta conversa deixou o António muito triste, achando melhor não se voltar a cruzar com o
Pepas.
Foi assim que Pepas se foi isolando cada vez mais, passando a andar sempre sozinho e de cabeça
baixa. Não tinha nada que o fizesse feliz, sentia a falta dos seus amigos e dos momentos que passaram juntos
a rir sem parar.
Desolado, desanimado e sem nada que o fizesse ter vontade de continuar,
um dia, decidiu pôr-se em cima do muro da dona Amélia. Este muro era encostado
a uma estrada muito movimentada, onde passavam muitos carros e camiões. Ficou
ali muito tempo a pensar na sua vida.
Até que, num pensamento mais triste, Pepas decidiu atirar-se para a
estrada. Naquele momento, estava a passar um carro que, ao vê-lo saltar, tentou
parar, mas foi tarde de mais e o pobre gato foi mesmo atingido pelo carro que o
deixou inanimado na berma da estrada. Uns primos do Pepas que por ali passavam no momento e assistiram
ao acidente foram logo socorrê-lo e levaram-no até ao “gospital” (hospital para gatos), onde foi rapidamente
assistido.
Pepas teve a sua vida por um fio, mas recuperou. Recebia todos os dias a visita do António, que o
animava com o seu sentido de humor muito apurado.
Passados doze dias, Pepas voltou para casa, pois tinha de ter repouso absoluto e, como nem sempre
tinha companhia, ele chegou à conclusão de que o António era mesmo seu amigo porque, tal como estava
sempre com ele para brincarem e divertir-se, também o acompanhou neste momento muito complicado da sua
vida. Rapidamente percebeu que devia um pedido de desculpas ao António. Então, disse-lhe:
- António, sei que não fui muito correto contigo, mas tu sabes que és um grande amigo que eu tenho e
que, se não fosses tu, neste momento provavelmente estaria sozinho. Quero pedir-te desculpa por aquilo que
te disse.
- Eu sei que estás arrependido. Eu sei que aquele tinha sido um dia horrível para ti. Tinhas acabado o
namoro com a Tita… mas, se queres que te diga, foi a melhor coisa que fizeste. Ela não te fazia feliz e eu, como
teu amigo, sentia isso perfeitamente.
- Obrigado, António!- disse o Pepas, grato pela confiança que o amigo lhe transmitiu.
Com isto, o Pepas percebeu que só porque nalguns momentos a vida não corria bem, não queria dizer
que estava tudo perdido, e que as verdadeiras amizades são aquelas que resistem a qualquer discussão, se for
realmente uma amizade em que ambas as partes se sentem felizes.
Moral da história: não maltrates quem não te maltrata, porque vais estar a magoar uma pessoa que só
te quer ver bem.
Inês João
26