Page 19 - Nos_os_bichos
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Apesar de diferentes, os dois gatos davam-se bastante bem. Todos os dias, de
manhã, o gato de rua ia até à casa do outro gato e passavam o dia todo juntos. Um dia,
o gato de rua virou-se para o outro e disse:
- Gostava de ter a tua vida, de ter uma casa quente e toda a comida do mundo.
- E eu gostava de ter a tua! – exclamou o outro gato.
- Para quê? Para passares fome e frio? – questionou o outro.
- Não, para ter a tua felicidade.
O gato de rua não sabia o que responder, pois pensava que o outro era feliz por
ter uma casa, então deixou-se estar a olhar para o horizonte. O outro continuou:
- Gostava de ter uma vida com as condições da tua: tu tens pessoas que te dão comida.
- Tu também! – o gato de rua interrompeu.
- Sim, mas de cada vez que as pessoas te vão dar comida, dão-te carinho também; a mim, de manhã,
apenas me dão comida e os meus donos nunca me deram mimos.
- Porquê? – interrogou o outro gato, cada vez mais confuso.
- Eu fui dado aos meus donos, mas eles nunca quiseram um gato. Eles cuidam de mim, dão-me comida,
porém não me dão carinho, é uma sorte eles não me porem na rua. Eu não sou feliz, o que mais quero é ter a
felicidade que tu tens.
- É verdade, eu não tenho nada, mas sou feliz. As pessoas que me encontram na rua tratam-me muito
bem. – respondeu o gato de rua.
E assim ficaram os dois gatos, a observar o sol a desaparecer…
No dia seguinte, mal o gato de rua viu o amigo, foi ter com ele e disse-lhe:
- Tens razão, sem felicidade parece que tudo à nossa volta é cinzento; com felicidade, tudo é colorido!
Prefiro viver com felicidade.
O outro, sem hesitar, respondeu:
- Podemos ter tudo o que queremos – casa, comida, bens materiais – mas nada disso substitui a nossa
felicidade interior.
Com esta frase, o gato de rua percebeu como a sua vida era boa, mesmo não tendo nada.
Todos nós devíamos pensar assim: podemos não ter a maior casa, o melhor carro, mas temos algo muito
mais importante que tudo isso: amor e carinho!
Catarina Silva
O leão e os ratos
Numa bela tarde de verão, dois ratos irmãos davam a sua habitual caminhada pela verdejante floresta
quando, de repente, um deles olhou à sua volta e, tomado por um súbito medo, fugiu dali, num impulso. O que
era?, pensou o outro. Mas não havia tempo para grandes pensamentos e, sem quê nem para quê, viu-se na
boca de um terrível leão.
Rapidamente, forçando na medida das suas forças as mandíbulas do terrível felino, o rato disse-lhe,
numa última tentativa de sobrevivência:
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