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A casa dos lobos



                        Não é novidade para ninguém que, um dia, nós vamos encarar a solidão na sua verdadeira forma e
                  tornar-nos-emos o nosso único e confiável companheiro e o nosso único e pior inimigo. Para mim, esse dia
                  chegou muito mais cedo do que devia.

                        A minha mãe era o lobo alfa da minha alcateia. Nós éramos uma das alcateias mais populares na floresta.
                  Nunca passamos fome, somos bons caçadores, nunca nenhuma outra alcateia nos roubou território, somos
                  intimidantes e, sobretudo, somos unidos.

                        Cada vez que a minha mãe nos conta a história de como criou a nossa família e de como foi difícil para
                  ela andar pelas florestas, sozinha, a converter lobos solitários e assassinos em lobos capazes de se integrarem
                  numa família como a nossa, sinto-me muito orgulhoso e impressionado. Ela é quem nos dá força, quem nunca
                  nos deixa perder uma única luta e quem nos ensina a receber e a ajudar os outros lobos. É o nosso orgulho!
                        Um dia, contudo, algo veio estragar a nossa paz.

                        Os caçadores entraram na floresta, invadiram o nosso território e, com um tiro certeiro, ficámos sem a
                  nossa líder. Eu soube, a partir daí, que aquela alcateia era agora minha, por uma questão de hierarquia, mas eu
                  ainda era considerado um lobo demasiado jovem para controlar uma alcateia inteira numa luta como aquela,

                  pelo que todos começaram a atacar, sem obedecer às minhas ordens. Muitos morreram, outros fugiram… Era
                  a minha alcateia e eu sentia-me impotente. Eu queria ter conseguido liderá-los. Eu queria que estivessem todos
                  juntos para podermos tratar daqueles caçadores intrometidos. Sozinho, eu não conseguiria fazer nada contra
                  eles! Sabia que precisava do máximo de lobos possível para os combater. Contudo, como era o único lobo no
                  local, todos disparavam furiosamente contra mim. Não havia nada que pudesse fazer, precisava de fugir para

                  bem longe deles, mas era perseguido para todo o lado. Tinha de os cansar, era a única forma!
                        Eu conheço bem os humanos, não é a primeira vez que somos perseguidos por assassinos desmiolados
                  pela floresta: eles não têm resistência, pelo menos para me alcançarem. Por isso, continuei a correr e a tentar

                  evitar ao máximo os tiros das caçadeiras e as árvores do meu caminho. Algum tempo depois, a correr que nem
                  um louco, consegui paz. Foi assim que eu, o lobo que nasceu na alcateia mais temida da floresta, me tornei um
                  lobo solitário, perdido e indefeso…
                        Desculpem, esqueci-me completamente de me apresentar. O meu nome é Bolt, nasci há sete anos atrás.
                  Como já disse antes, sou filho da loba alfa da alcateia e de um lobo rafeiro que nunca apareceu após o

                  nascimento da minha ninhada. Continuando a minha história…
                        Tenho andado muito tempo sozinho desde aquele incidente com os caçadores. Tem sido muito mais
                  difícil do que parece! Já não como carne fresca há dois dias. Sinto-me fraco. Algo me rouba os pensamentos,

                  um barulho, mas não o consigo identificar. Preciso de me aproximar. Corro, aproximando-me do local de onde
                  vinha o ruído. Escondo-me atrás de uns arbustos e espreito: era um coelho branco a comer a erva do chão. Um
                  coelho delicioso e suculento a saltar e a comer tranquilamente. A água cresce na minha boca, até a sentir
                  totalmente seca. Só preciso do momento certo para atacar o meu alvo. Meto as garras de fora e, no segundo a
                  seguir, estou em cima da minha próxima refeição. No entanto, lancei os foguetes cedo demais: ele conseguiu

                  escapar por entre as minhas patas e desapareceu no meio da floresta. Eu estava cansado, exausto, eu não


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