Page 24 - A CAPITAL FEDERAL
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Mulher mais bela aqui não há!
(Todos se retiram. Durante as cenas que seguem, até o fim do quadro, passam
pessoas do povo.)
- Cena II –
Figueiredo, Benvinda
Figueiredo (Repreensivo.) – Já vejo que há de ser muito difícil fazer alguma coisa de ti!
Benvinda – Eu não tenho curpa que esse diabo...
Figueiredo (Atalhando.) – Tens culpa, sim! Em primeiro lugar, essa toalete é escandalosa!
Esse chapéu é descomunal!
Benvinda – Foi o sinhô que escolheu ele!
Figueiredo – Escolhi mal! Depois, tu abusas do face-en-main!
Benvinda – Do... do quê?
Figueiredo – Disto, da luneta! Em francês chama-se face-en-main. Não é preciso estar a
todo o instante... ( Faz o gesto de quem leva aos olhos o face-en-main.) Basta que te
sirvas disso lá uma vez por outra, e assim, olha, assim, com certo ar de sobranceria.
(Indica.) E não sorrias a todo instante, como uma bailarina... A mulher que sorri sem cessar é como o
pescador quando atira a rede: os homens vêm aos cardumes, como ainda agora! – E esse andar? Por
que gingas tanto? Por que te remexes assim?
Benvinda (Chorosa.) – Oh! Meu Deus! Eu ando bem direitinha... não olho pra ninguém...
Estes diabo é que intica comigo. – Vem cá, mulatinha! Meu bem, ouve aqui uma
coisa!
Figueiredo – Pois não respondas! Vai olhando sempre para a frente! Não tires os olhos de
um ponto fixo, como os acrobatas, que andam na corda bamba... Olha, eu te
mostro... Faze de conta que eu sou tu e estou passando... Tu é um gaiato e me dizes
uma gracinha quando eu passar por ti. ( Afasta-se, e passa pela frente de Benvinda
muito sério.) Vamos, dize alguma coisa!...
Benvinda – Dizê o quê?
Figueiredo (À parte.) – Não compreendeu! (Alto.) Qualquer coisa! Adeus, meu bem!
Aonde vai com tanta pressa! Olha o lenço caiu!
Benvinda – Ah! Bem!
Figueiredo – Vamos, outra vez. ( Repete o movimento.)
Benvinda – Adeus, seu Figueiredo.
Figueiredo – Que Figueiredo! Eu agora sou Benvinda! E a propósito: hei de arranjar-te um
nome de guerra.
Benvinda – De guerra? Uê!...
Figueiredo – Sim, um nome de guerra. É como se diz. Benvinda é nome de preta velha.
Mas não se trata agora disso. Vou passar de novo. Não te esqueças de que eu sou tu.
Já compreendeste?
Benvinda – Já, sim sinhô.
Figueiredo – Ora muito bem! – Lá vou eu. (Repete o movimento.)
Benvinda (Enquanto ele passa.) – Ouve uma coisa, mulata! Vem cá, meu coração!...
Figueiredo (Que tem passado imperturbável.) – Viste? Não se dá troco! Arranja-se um
olhar de mãe de família! E diante desse olhas, o mais atrevido se desarma! –
Vamos! Anda um bocadinho até ali! Quero ver se aprendeste alguma coisa!
Benvinda – Sim sinhô. (Anda.)
Figueiredo – Que o quê! Não é nada disso! Não é preciso fazer projeções do holofote para
todos os lados! Assim, olha... (Anda.) Um movimento gracioso e quase
imperceptível dos quadris...
Benvinda (Rindo.) – Que home danado!
Figueiredo – É preciso também corrigir o teu modo de falar, mas a seu tempo trataremos
desse ponto, que é essencial. Por enquanto o melhor que tens a fazer é abrir a boca o
menor número de vezes possível, para não dizeres home em vez de homem e
quejandas parvoíces... Não há elegância sem boa prosódia – Aonde ias tu?
Benvinda – Ia na Rua do Ouvidô.