Page 28 - A CAPITAL FEDERAL
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(Desata a chorar.)
                  Gouveia ( À parte.) – É preciso, realmente, que ela me ame muito, para ter um
                         pressentimento assim! (Alto.) Então? Que é isso? Não chores! Vê que estamos na rua!...
                  Lola  (À parte.) – Pedaço d’asno!
                  Gouveia –  Eu irei logo lá à casa, e conversaremos.
                  Lola – Não! não te deixo! Hás de ir agora comigo, hás de acompanhar-me, senão
                         desapareces como aquela vez, no Largo da Carioca!
                  Gouveia – Mas...
                  Lola – Ou tu me acompanhas, ou dou um escândalo!
                  Gouveia –  Bom, bom, vamos. Tens aí o carro?
                  Lola – Não, que o Lourenço, coitado, foi passar uns dias em Caxambu. Vamos a pé. Bem
                         sei que tu tens vergonha de andar comigo em público, mas isso são luxos que deves perder!
                  Gouveia –  Vamos! (À parte.) Hei de achar meio de escapulir...
                  Lola – Vamos (À parte.) Ou eu me engano, ou está liquidado! (Afastam-se. Entram pelo
                         outro lado Eusébio, Fortunata e Quinota, que os vêem sem serem vistos por eles.)



                                                       -   Cena V –
                                                  Eusébio, Fortunata, Quinota

                  Fortunata – Olhe. Lá vai! É ele! É seu Gouveia com a mesma espanhola com quem estava
                         aquela noite no jardim do Recreio! ( Correndo a gritar.) – Seu Gouveia! Seu Gouveia!...
                  Eusébio (Agarrando-a pela saia.) – Ó senhora! Não faça escândalo! Que maluquice de
                         muié!...
                  Quinota (Abraçando o pai, chorosa.) – Papai, eu sou muito infeliz!
                  Eusébio – Aqui está! É o que a senhora queria!]
                  Fortunata – Aquilo é um desaforo que eu não posso admiti! O diabo do home é noivo de
                         nossa filha e anda por toda a parte cuma pilantra!
                  Eusébio – Que pelintra, que nada!... Não acredita, fia da minha bença. É uma prima dele.
                         Coitadinha! Chorando! (Beija-lhe os olhos.)
                  Quinota – Eu gosto tanto daquele ingrato!
                  Eusébio – Ele também gosta de ti... e há de casá contigo... e há de sê um bom marido!
                  Fortunata (Puxando Eusébio de lado.) – É perciso que você tome uma porvidência
                         quaqué, seu Eusébio – senão, faço uma estralada!...
                  Eusébio(Baixo.) – Descanse... Eu já tomei informação... Já sei onde mora essas espanhola...
                         Agora mesmo vou procurá ela. Vá as duas. Vá para casa! Eu já vou.
                  Fortunata – E Juquinha? Por onde anda aquele menino?
                  Eusébio – Deixe, que o pequeno não se perde... Está lá no tal Belódromo, aprendendo a
                         andá naquela coisa... Cumo chama?
                  Quinota – Bicicleta.
                  Eusébio – É. – Diz que é bom pra desenvorvê os músquios!
                  Fortunata – Desenvorvê a vadiação, é que é!
                  Quinota – Ele é tão criança!
                  Eusébio – Deixa o menino se adiverti. – Vão pra casa.
                  Quinota – Lá vamos para aquele forno!
                  Eusébio – Tem paciência, Quinota! Enquanto não se arranja coisa mió, a gente deve se
                         contentá c’aquele sote.
                  Fortunata – Vamo, Quinota!
                  Quinota – Não se demore, papai!
                  Eusébio – Não.
                  Fortunata (Saindo.) – Eu tô mas é doida pra me apanhá na fazenda! ( Eusébio leva ase
                         senhoras até o bastidor e, voltando-se, vê pelas costas Benvinda.)


                                                       -   Cena VI –
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