Page 25 - A CAPITAL FEDERAL
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Figueiredo (Emendando.) – Ouvidorr... Ouvidorr... Não faças economia nos erres, porque
                         apesar da carestia geral, eles não aumentarão de preço. E sibila bem os esses –
                         Assim... Bom. Vai e até logo! Mas vê lá: nada de olhadelas, nada de respostas! Vai!
                  Benvinda – Inté logo.
                  Figueiredo – Que inté logo! Até logo é que é! Olha, em vez de inté logo, dize: Au revoir!
                         Tem muita graça de vez em quando uma palavra ou uma expressão francesa.
                  Benvinda – Ô revoá!
                  Figueiredo – Antes isso! (Benvinda afasta-se.) Não te mexa tanto, rapariga! Ai! Isso!
                         Agora foi demais! Ai! (Benvinda desaparece.) De quantas tenho lançado, nenhuma
                         me deu tanto trabalho! Não pode estar ao pé de gente! (Lola vai atravessando a
                         cena; vendo Figueiredo encaminha-se para ele.)

                                                       -   Cena III –
                                                           Figueiredo, Lola

                  Lola – Oh! Estimo encontrá-lo! Pode dar-me uma palavra?
                  Figueiredo – Pois não, minha filha!
                  Lola – Não o comprometo?
                  Figueiredo – De forma alguma! Vossemecê já está lançada!
                  Lola – Como?
                  Figueiredo – Vossemecês só envergonham a gente antes de lançadas.
                  Lola – Não entendo.
                  Figueiredo – Nem é preciso entender. Que desejava?
                  Lola – Lembra-se de mim?
                  Figueiredo – Perfeitamente. Encontramo-nos um dia no vestíbulo do Grande Hotel da
                         Capital Federal.
                  Lola ( Apertando-lhe a mão.) – Nunca mais me esqueci da sua fisionomia. O senhor não é
                         bonito... oh! não! mas é muito insinuante.
                  Figueiredo (Modestamente.) – Oh! filha! ...
                  Lola – lembra-se do motivo que me levava àquele hotel?
                  Figueiredo – Lembra-me. Vossemecê ia à procura de um moço que apontava na primeira
                         dúzia.
                  Lola – Vejo que tem boa memória. Pois é na sua qualidade de hóspede do Grande Hotel da
                         Capital Federal que me atrevo a pedir-lhe uma informação.
                  Figueiredo – Mas eu há muitos dias já lá não moro! Era um bom hotel, não nego, mas que
                         quer? – Não me levavam o café ao quarto às sete horas em ponto! – Entretanto, se for coisa que eu
                         saiba...
                  Lola –Queria apenas que me desse notícias do Gouveia.
                  Figueiredo – Do Gouveia?
                  Lola – O tal da primeira dúzia.
                  Figueiredo – Mas eu não o conheço.
                  Lola – Deveras?
                  Figueiredo – Nunca o vi mais gordo!
                  Lola – Que pena! Supus que o conhecesse!
                  Figueiredo – Pode ser que o conheça de vista, mas não ligo o nome à pessoa.
                  Lola – Tenho-o procurado inúmeras vezes no hotel... e não há meio ! Não está! Saiu! Há
                         três dias não aparece cá! Um inferno!...
                  Figueiredo – Continua a amá-lo?
                  Lola – Sim, continuo, porque a primeira dúzia, pelo menos até a última vez que lhe falei,
                         não tinha ainda falhado; mas como não o vejo há muitos dias, receio que a sorte
                         afinal se cansasse.
                  Figueiredo – Então o seu amor regula-se pelos caprichos da bola da roleta?
                  Lola – É como diz. Ah! Eu cá sou franca!
                  Figueiredo – Vê-se!

                                                     Coplas
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