Page 29 - A CAPITAL FEDERAL
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Eusébio, Benvinda

                  Benvinda (Consigo.) – Parece que assim o meu andá tá direito...
                  Eusébio (Consigo.) – Xi que tentação! (Seguindo Benvinda.) Psiu!... Ó Dona... Dona!...
                  Benvinda  (À parte.) – Esta voz... (Volta-se.) Sinhô Eusébio!
                  Eusébio – Benvinda!...
                  Benvinda (Assentando o face-en-main.) – Ó revoá.
                  Eusébio –  A mulata de luneta, minha Nossa Senhora! Este mundo tá perdido!...
                  Benvinda ( Dando-se ares e sibilando os esses.) – Deseja alguma coisa? Estou as suas
                         ordes!
                  Eusébio – Ah! ah! ah! que mulata pernóstica! Quem havia de dizê! Vem cá, diabo, vem cá;
                         me conta tua vida!
                  Benvinda (Mudando de tom.) – Vam’cê não tá zangado comigo?
                  Eusébio –  Eu não! Tu era senhora do teu nariz! O que tu podia tê feito era se despedi da
                         gente... Dona Fortunata não te perdoa! E seu Borge, quando soubé, há de ficá
                         danado, porque ele gosta de ti.
                  Benvinda – Se ele gostasse de mim, tinha se casado comigo.
                  Eusébio – Ele um dia me deu a entendê que se eu te desse um dote...
                  Benvinda – Vamcês ainda mora no hoté?
                  Eusébio – Não. Nós mudemo para um sote da Rua dos Inválido. Paguemo sessenta mil-réis.
                  Benvinda – Seu Gouveia já apareceu?
                  Eusébio – Apareceu e tudo tá combinado... (À parte.) O diabo é a espanhola!
                  Benvinda – Sinhá? nhãnhã? nhô Juquinha? tudo tá bom?
                  Eusébio – Tudo! Tudo tá bom!
                  Benvinda – Nhô Juquinha eu vejo ele às vez passá na Rua do Lavradio... com outros
                         menino...
                  Eusébio – Tá aprendendo a andá no... n... nesses carro de duas roda, uma atrás  outra
                         adiante, que a gente trepa em cima e tem um nome esquisito...
                  Benvinda – Eu sei.
                  Eusébio – E tu, mulata?
                  Benvinda – Eu tô com seu Figueiredo.
                  Eusébio – Sei lá quem é seu Figueiredo.
                  Benvinda – Tou morando na Rua do Lavradio, canto da Rua da Relação. (Assentando o
                         face-en-main.) Se quisé aparecê não faça cerimônia. ( Sai requebrando-se.) Ó revoá!
                  Eusébio – Aí, mulata!


                                                       -   Cena VII –
                                                                         Eusébio, depois Juquinha

                  Eusébio – O curpado fui eu... Quando me alembro que seu Borge queria casá com ela...
                         bastava um dote, quaqué coisa... dois ou três conto de réis... mas deixa está: ele não
                         sabe de nada, e tarvez que a coisa ainda se arranje. Quem não sabe é como quem
                         não vê. (Vendo passar Juquinha montado numa bicicleta.) Eh! Juquinha... Menino,
                         vem  cá!
                  Juquinha – Agora não posso, não, sinhô! (Desaparece.)
                  Eusébio – Ah! menino! Espera lá! (Corre atrás do Juquinha. Gargalhada dos circunstantes. Mutação.)


                                                     Quadro VI
                                                Saleta em casa de Lola

                                                       -   Cena I –
                                                       Lola e Gouveia

                         (Lola entra furiosa. Traz vestida uma elegante bata. Gouveia acompanha-a
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