Page 52 - A CAPITAL FEDERAL
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Lourenço –  Pelo menos saber onde mora.
                  Benvinda – Moro na rua das casa.
                  Lourenço –  Não seja má! Bem sei que é aqui mesmo na Rua do Lavradio.
                  Benvinda – Quem le disse?
                  Lourenço – Ninguém. Fui eu que lhe vi na janela.
                  Benvinda – Pois não vá lá que não lhe arrecebo!
                  Lourenço –  Por que não me arrecebe, marvada?
                  Benvinda – Vou sê franca... Só arrecebo quem quisé me tirá desta vida. Não nasci pra isto.
                         Quero vivê em família.
                  Lourenço – Ah, seu benzinho! Isso é que não pode ser! Hoje em dia não é possível viver
                         em família!
                  Benvinda – Por quê?
                  Lourenço – Por quê? Ainda me perguntas, amor?

                                                     Coplas
                                                        Lourenço
                                                       -   I –

                                       Já não se encontra casa decente,
                                       Que custe apenas uns cem mil-réis,
                                       E os senhorios constantemente
                                       O preço aumentam dos aluguéis!
                                       Ainda o povinho muito inquieto,
                                       E tem – pudera – toda a razão;
                                       Não aparece nenhum projeto
                                       Que nos arranque desta opressão!
                                              Um cidadão neste tempo
                                              Não pode andar amarrado...
                                              A gente vê-se , e adeusinho:
                                              Cada um vai pro seu lado!

                                                       -   II –

                                       Das algibeiras some-se o cobre,
                                       Como levado por um tufão!
                                       Carne de vaca não come o pobre,
                                       E qualquer dia não come pão!
                                       Fósforos, velas, couve, quiabos,
                                       Vinho, aguardente, milho, feijão,
                                       Frutas, conservas, cenouras, nabos,
                                       Tudo se vende pr’um dinheirão!
                                              Um cidadão neste tempo etc...

                  Benvinda – Tenho sede, venha pagá um copo de cerveja.
                  Lourenço – Com muito gosto, mas da Babilônia, que as alamoas estão pela hora da morte!
                  Benvinda – Vamo.
                  Lourenço – Como você se chama, seu benzinho.
                  Benvinda – Artemisa.
                  Lourenço – Que bonito nome! Vamos ali no botequim do Lopes. (Saem.)


                                                       -   Cena V –
                  Eusébio, Lola, Mercedes, Dolores, Blanchette, depois Figueiredo

                  (Eusébio entra no meio das mulheres: traz o chapéu atirado para a nuca, e um enorme charuto. Vêm todos
                  alegres. Acabaram de jantar e lembraram-se de dar uma volta pelo Belódromo.)
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