Page 57 - A CAPITAL FEDERAL
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Fortunata – Não tem – ó Quinota – nem nada! É a verdade!...
                  Quinota – Irá conosco para a fazenda, onde não lhe faltará ocupação.
                  Fortunata – Sim sinhô; é mió trabaiá na roça que fazê vida de vagabundo na cidade! –
                         Outro pingo!
                  Quinota – Papai precisa muito associar-se a um moço inteligente, nas suas condições.
                         Sacrifique à sua tranquilidade os seus prazeres; case-se, faça-se agricultor, e sua esposa, que não será
                         muito exigente e terá muito bom-senso, todos os  anos  lhe dará licença para vir matar saudades
                         daquilo a que o senhor chama o micróbio da pândega.
                  Gouveia (À parte.) – Sim, senhor, pregou-me uma lição de moral mesmo nas bochechas!
                  Fortunata – Seu Gouveia, é mió a gente i pro lugá por onde Juquinha tem de saí.
                  Gouveia – Deve sair por acolá... Vamos esperá-lo na passagem. (Estendendo o braço.) É
                         verdade, já está chuviscando.
                  (Saem. O final da corrida. Um toque de campanhia elétrica. Pouco depois um pouco de música. Vozeria do
                  povo, que vem todo ao proscênio.)


                                                     Coro
                                              Oh!  Quem  diria
                                              Que ganharia
                                              O  Colibri!
                                              Ganhou à toa!
                                              Pule  tão boa
                                              Eu nunca vi
                                                     Aqui!


                                                       -   Cena VIII –
                                       Lemos,  Guedes, Lourenço, o Freqüentador do Belódromo,  depois Eusébio,
                                       Figueiredo, Lola, Mercedes,  Dolores,  Blanchette,  depois  S’il-vous-plaît,
                                       Juquinha,  depois Fortunata, Quinota, Gouveia,  depois Benvinda,  depois
                                       Lourenço.

                  Lemos – Ganhou o Colibri! Quem diria!
                  Guedes – O Colibri... que pulão...
                  Lourenço – Que desgraça!... O Félix Daure caiu de propósito, mas por cima do Félix Faure
                         caiu o Menelik, por cima do Menelik o Ligúria, por cima do Ligúria, o Carnot, e o
                         Colibri, que vinha na bagagem, não caiu por cima de ninguém e ganhou o páreo!
                         Que palpite de mulata! Onde estará ela? Vou procurá-la. (Desaparece.)
                  O Freqüentador (A Lemos e Guedes.) – Então? Eu não dizia? Ganhou o 24! Doze e doze,
                         vinte e quatro. ( Com uma idéia.) Ah!
                  Os Dois – Que é?
                  O Freqüentador – Fui um asno! 24 é a data da missa de sétimo dia de minha mulher!
                         (Lemos e Guedes afastam-se rindo.) Ora esta! Ora esta!... E era um pulão! (Abre o
                         guarda-chuva.) Chove... Naturalmente não há mais corridas hoje... (Afasta-se. Há na
                         cena alguns guarda-chuvas abertos. Aparecem Eusébio, Figueiredo e as cocotes.
                         Vêm todos de guarda-chuvas abertos.)
                  Figueiredo – Bravo! Foi um tiro, seu Eusébio, foi um tiro!... O Colibri vendeu apenas seis
                         pules e o senhor tem cinco!
                  S’il-vous-plaît  (Metendo-se na conversa, e abrigando-se no guarda-chuva de Eusébio.) –
                         Dá mais de cem mil-réis cada pule!...
                  Eusébio – Mais de cem mil-réis? Então? Eu não disse? Co aquele nome, o menino não
                         podia perdê! O Colibri é um jumento de muita sorte! ( A S’il-vous-plaît.) O sinhô conhece ele?
                  S’il-vous-plaît – Quem? O Colibri? Sim senhor!
                  Eusébio – Vá chamá ele. Quero le dá uma lambuge!
                  S’il-vous-plaît – Nem de propósito! Ele aí vem. (Chamando Juquinha que aparece.) Ó
                         Colibri! Está aqui um senhor que jogou cinco pules em você e quer dar-lhe uma gratificação.
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