Page 60 - A CAPITAL FEDERAL
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1º Literato – Essa mulher não te perdoará nunca tal covardia!
                  2º Literato – Olha, o melhor que tens a fazer é não voltares lá!
                  Duquinha – Ah! Meu amigo! Isso é bom de dizer, mas eu estou apaixonado...
                  2º Literato – Tu estás mas é fazendo asneiras! Onde vais tu buscar dinheiro para essas
                         loucuras?
                  Duquinha – Mamãe tem me dado algum.. mas confesso que contraí algumas dívidas, e não
                         pequenas. – Ora adeus! Não pensemos em coisas tristes, e vamos tomar alguma coisa alegre!
                  Os Dois – Vamos lá!

                  (Afastam-se pela direita, cumprimentando Mercedes, Dolores e Blanchette, que entram por
                         esse lado e se encontram com Lola, que entra da esquerda, muito nervosa e agitada. Figueiredo
                         entra da direita, observa as cocotes, pára, e, colocado por trás, ouve tudo quanto elas dizem.)

                                                       -   Cena III –
                                       Lola, Mercedes, Dolores, Blanchette, Figueiredo,
                                                   Pessoas do Povo, depois Duquinha
                  Lola – Ah! venham cá. Estou aflitíssima. Não calculam vocês que série de desgraças!
                  As Outras – Que foi? Que foi?

                                                     Lola
                                                        Rondó
                                       Com o Duquinha a pouco eu estava
                                       Na saleta a conversar,
                                       E o Eusébio ressonava
                                       Lá na sala de jantar.
                                       O Duquinha uns versos lia,
                                       Mas não lia sem parar,
                                       Que a leitura interrompia
                                       Para uns beijos me furtar;
                                       Mas ao quarto ou quinto beijo,
                                       Sem se fazer anunciar,
                                       Entra o Eusébio, e o poeta vejo
                                       Dar um grito e pôr-se a andar!
                                       Pretendi  novos inganos,
                                       Novas tricas inventar,
                                       Mas o Eusébio pôs-se a panos:
                                       Não me  quis acreditar!
                                       Vendo a sorte assim fugir-me,
                                       Vendo o Eusébio se escapar,
                                       Fui ao quarto pra vestir-me
                                       E sair para o apanhar.
                                       Mas no quarto vi, de chofre,
                                       - ‘Stive quase a desmaiar! -
                                       Vi as portas do meu cofre
                                       Abertas de par em par!
                                       O ladrão foi o cocheiro!
                                       Nada ali me quis deixar!
                                       Levou jóias e dinheiro!
                                       Que nem  posso avaliar!

                  Blanchette – O cofre aberto!
                  Dolores – Jóias e dinheiro!
                  Mercedes – O cocheiro!
                  Lola – Sim, o cocheiro, o Lourenço, que desapareceu!
                  Blanchette – Mas como soubeste que foi ele.
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