Page 62 - A CAPITAL FEDERAL
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Gouveia, depois Eusébio
                  Gouveia – Como este tipo faz pagar caro os seus vinte mil-réis! Ah! Ele apanhou-me
                         descalço! Enfim vamos comprar os sapatos! (Vai saindo e encontra-se com Eusébio,  que  entra
                         cabisbaixo.) Oh! O Sr. Eusébio!...
                  Eusébio – Ora! Inda bem que le encontro!...
                  Gouveia ( À parte.) – Naturalmente já voltou à casa... Como está sentido! ... Vai falar-me
                         de Quinota!...
                  Eusébio -  Hoje de menhã encontrei ela beijando um mocinho!
                  Gouveia – Hein?
                  Eusébio – É levada do diabo! Não sei como o sinhô pôde gosta dela!
                  Gouveia –  Ora essa! A ponto de querer casar-me!
                  Eusébio – Era uma burrice!
                  Gouveia – Custa-me crer que ela...
                  Eusébio – Pois creia! Beijando um mocinho, um pelintreca, seu Gouveia!... Veja o sinhô
                         de que serviu gasta tanto dinheiro com ela!...
                  Gouveia – Sim, o senhor educou-a bem... ensinou-lhe muita coisa...
                  Eusébio (Vivamente.) – Não, sinhô! Não ensinei nada!... Ela já sabia tudo! O sinhô, sim! Se
                         arrugam ensinou foi o sinhô e não eu! Beijando um pelintreca, seu Gouveia!...
                  Gouveia – Dona Fortunata não viu nada?
                  Eusébio – Dona Fortunata?... Uê!... Como é que havera de vê?... Olhe, eu lá não vorto!
                  Gouveia – Não volta! Ora esta!
                  Eusébio – Não quero mais sabê dela.
                  Gouveia –  Deve lembrar-se que é pai!
                  Eusébio – Por isso mesmo! Ah! Seu Gouveia, se arrependimento sarasse... Bem; o sinhô
                         vai me apadrinha, como noutro tempo se fazia cm preto fugido... Não me atrevo a entrá In casa
                         sozinho depois de tantos dias de ofensa!
                  Gouveia – Em casa? Pois o senhor não me acaba de dizer que lá não volta porque Dona
                         Quinota...
                  Eusébio – Quem le falou de Quinota?
                  Gouveia –  Quem foi então que o senhor encontrou aos beijos com o pelintreca? – Ah,
                         agora percebo! A Lola!...
                  Eusébio – Pois quem havera de sê?
                  Gouveia – E eu supus... Onde tinha a cabeça? ... Perdoa, Quinota, perdoa! Vamos, Senhor
                         Eusébio... Eu apadrinharei, mas com uma condição: o senhor por sua vez me há de apadrinhar a
                         mim, porque eu também não apareço à minha noiva há muitos dias!
                  Eusébio – Por quê?
                  Gouveia – Em caminho tudo lhe direi. (À parte.) – Aceito o conselho de Quinota: vou
                         abrir-me. (Alto.) Tenho ainda que comprar um par de sapatos e fazer a barba.
                  Eusébio – Vamo, seu Gouveia! (Saem. Ao mesmo tempo aparece Lourenço perseguido por
                         Lola, Mercedes, Dolores e Blanchette.)


                                                       -   Cena VIII –
                                        Lourenço, Lola, Mercedes, Dolores, Blanchette, Pessoas do Povo
                  Lola e os Outros – Pega ladrão! (Lourenço é agarrado por pessoas do povo e dois
                         soldados que aparecem. Grande vozeria e confusão. Apitos. Mutação.)


                                                     Quadro XI
                                              (  O sótão ocupado pela família de Eusébio.)

                                                       -   Cena I –
                                                               Juquinha, depois Fortunata, depois Quinota
                  Juquinha (Entrando a correr da esquerda.) – Mamãe! Mamãe!
                  Fortunata (Entrando da direita.) – Que é, menino?
                  Juquinha – Papai tá i!
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