Page 59 - A CAPITAL FEDERAL
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bem não queria vi no Rio de Janeiro! (Saem entre risadas.)


                                                       -   Cena II –
                                1º Literato, 2º Literato, Pessoas do Povo, depois Duquinha

                  2º Literato – Tu ainda um dia te sais mal com esse maldito costume de bulir com as
                         moças!
                  1º Literato – Nada disse que a ofendesse. “Adeus, tetéia” não é precisamente um insulto.
                  2º Literato – Pois sim, mas que farias tu se dissessem o mesmo à tua irmã?
                  1º Literato – Não é a mesma coisa! Minha irmã e....
                  2º Literato – Não é melhor que as irmã dos outros. (Entra Duquinha, vem pálido e com
                         grandes olheiras.)
                  Duquinha – Ah! Meus amigos! Meus amigos! Se soubessem o que me aconteceu?
                  Os Dois – Fala!
                  Duquinha – O fazendeiro... aquele fazendeiro de quem lhes falei?...
                  Os Dois – Sim!
                  Duquinha – Apanhou-me com a boca na botija!...
                  1º Literato – Mas que tem isso?
                  Duquinha – Como que tem isso? Aquele homem é rico! Dava tudo à Lola!
                  2º Literato – Tu também não lhe davas pouco!
                  Duquinha (Vivamente.) – Dinheiro nunca lhe dei, - nem ela o aceitaria...
                  1º Literato – Pois sim!
                  Duquinha – Jóias.... vestidos... pares de luvas... leques... chapéus... Dinheiro nem vintém.
                         Quem sempre me apanhava algum era o  Lourenço, o cocheiro.
                  2º Literato – És um pateta! Mas conta-nos isso!
                  Duquinha – Estávamos – ela e eu – na saleta e o bruto dormia na sala de jantar. Eu tinha
                         levado à Lola umas pérolas com que ela sonhou... Vocês não imaginam como
                         aquela rapariga sonha com coisas caras!
                  1º Literato – Imaginamos! Adiante!
                  Duquinha – Eu lia para ela ouvir os meus últimos versos... aqueles que te dei ontem para a
                         revista....

                         Depois que te amo, depois que és minha,
                         Nado em delícia, nado em delícia...

                  1º Literato – Eu sei, Verlaine puro.
                  Duquinha – Obrigado. – No fim de cada estrofe, eu dava-lhe um beijo... um beijo quente e
                         apaixonado... um beijo de poeta... Pois bem, depois da terceira estrofe:

                         Oh! Se algum dia, destino fero
                         Nos separasse, nos separasse...

                  1º Literato (Continuando.)
                         - O que faria contar não quero...

                  Duquinha
                         Que se o contasse, que se o contasse...

                     No fim dessa estrofe, Lola, que esperava a deixa, estende-me a face, eu beijo-a e o
                  fazendeiro, de pé, na porta da saleta, com os olhos esbugalhados dá este grito: Ah! Seu pelintreca!...
                  2º Literato – E tu?
                  Duquinha – Eu?... Eu... eu cá estou. Não sei o que mais aconteceu. Quando dei por mim
                         estava dentro de um bonde elétrico, tocando a toda para a cidade!
                  1º Literato – Fizeste uma bonita figura, não há dúvida! Podes limpar a mão à parede!
                  Duquinha  - Por quê?
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