Page 53 - A CAPITAL FEDERAL
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Eusébio – Não, Lola! Tu hoje há de me deixá i pra casa! Dona Fortunata deve está furiosa!
                  Lola – Que Dona Fortunata que nada!
                  Mercedes – Havemos de acabar a noite num gabinete do Munchen!
                  Dolores – Não o deixamos!
                  Blanchette – Está preso!... E, demais, vamos ter chuva!
                  Eusébio – Na chuva já tou eu, se não me engano. Aquele vinho é bão, mas é veiaco!
                  Figueiredo (Aproximando-se.) – Olá! viva a bela sociedade!
                  Lola  - Olha quem ele é! O Figueiredo!
                  Mercedes – O Radamés!
                  Dolores – Você no Belódromo!
                  Figueiredo – Por mero acaso... Não gosto disto... No Rio de Janeiro não há divertimentos
                         que prestem! Não temos nada, nada!
                  Eusébio (Num tom magoado.) – Como vai a Fredegonda, seu Figueiredo?
                  Figueiredo – A Fredegonda já não é Fredegonda!
                  Todos – Ah!...
                  Figueiredo – Tornou a ser Benvinda, como antigamente. Deixou-me!
                  Todos – Deixou-o?
                  Figueiredo – Deixou-me, e anda à procura de alguém que saiba lançá-la melhor do que eu!
                  Eusébio – Uê!
                  Figueiredo – Deve estar aqui no Belódromo... Acompanhei-a até cá para pedir-lhe que
                         tivesse juízo, mas a sua resolução é inabalável... Pobre rapariga!...
                  Eusébio (Muito comovido, para o que concorre o vinho que bebeu.) – Coitada da
                         Benvinda!... Podia tá casada e agora... anda atirada por aí como uma coisa à-toa... sem ninguém que
                         tome conta dela... (Com lágrimas na voz.) Coitada... não façum caso... Eu vi ela pequena... nasceu e
                         cresceu lá em casa.. (Chorando.) Minha fia mamou o leite da mãe dela!
                  Todos – Que é isso?! Chorando?! Ora esta!...
                  Eusébio (Com soluços.) – Que chorando que nada! Já passou!... Não foi nada!... Que qué
                         vacês! Mineiro tem muito coração!...
                  Todos – Vamos lá! Que é isso? Então? ...
                  Lola – Há de passar. São efeitos do Chambertin! – Eusébio, onde... então?... vá comprar
                         umas pules para tomar interesse pela corrida.
                  Eusébio – Eu não entendo disso!
                  Figueiredo – Escolha um nome daqueles. Olhe, ali, na pedra... Ligúria, Carnot, Menelik,
                         Colibri e Félix Faure.
                  Eusébio – Colibri! Eu quero Colibri!
                  Figueiredo – Ouvi dizer que não vale nada... É o que aqui chamam um bacamarte... Não
                         lhe sorri nenhum dos presidentes da República Francesa?
                  Eusébio – Não sinhô, não quero outro! Colibri é o nome de um jumento que tenho lá na
                         fazenda.
                  Dolores, Mercedes e Blanchette (Ao mesmo tempo.) – Não faça isso! Se é bacamarte, não
                         presta! É dinheiro deitado fora!
                  Lola – Deixem-no lá! É um palpite! Vá comprar cinco pules naquele guichê.
                  Eusébio – Naquele quê?
                  Figueiredo – Naquele buraco.
                  Eusébio – Canto custa?
                  Figueiredo – Cinco pules são dez mil-réis.
                  Eusébio – Mas como se faz?
                  Figueiredo – Estenda o braço, meta o dinheiro dentro do buraco, abra a mão, e diga:
                         “Colibri”.
                  Eusébio – Sim, sinhô. (Afasta-se.)
                  Figueiredo – Pois é o que lhes conto: estou livre como o lindo amor!
                  Mercedes – Se me quiser tomar sob a sua valiosa proteção...
                  Dolores – Se quiser fazer a minha ventura...
                  Blanchette – Se me quiser lançar...
                  Lola – Vocês estão a ler! Ele só gosta de...
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