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de dormir assisto ao Robin Hood de Ridley Scott. E obviamente quero ser Marion. Vou para
a cama suspirando.
Conto aqui meu dia não porque ele seja especialmente interessante, mas porque
possivelmente, com variações de temas aqui e ali, ele seja parecido com o seu naquilo que
mistura de realidade e fantasia — em sonhos dormindo ou devaneios na vigília. Ainda que
você divague com vitórias estrondosas do seu time de futebol, com um sucesso profissional
estonteante, em se ver estampado na capa das revistas ao ser flagrado num ato de heroísmo
ou até mesmo ganhando na mega-sena sozinho (claro!). Ou fantasie ser um aventureiro
intrépido em algum canto selvagem do mundo enquanto briga com a máquina de café do
escritório.
Conto meu dia para que você possa lembrar o seu. E assim possamos ter bem presente
que a fantasia ocupa mais tempo da nossa vida do que aquilo que chamamos de realidade.
É, portanto, coisa séria. Não séria como sinônimo de chatice e sisudez, mas séria como algo
para o qual vale a pena olhar com atenção — e não espanar como tema marginal. Quando
lembramos o nosso dia, em geral recordamos os atos concretos, a rotina prática, desde a
conta que pagamos no banco ao trabalho que realizamos. E assim calamos um pedaço
grande do nosso cotidiano por desprezarmos como irrelevante ou, em alguns casos, até
vergonhoso. Perdemos então a chance de nos conhecermos melhor e percebermos para
onde caminha o nosso desejo.
É justamente sobre a realidade da fantasia um livro extraordinário que acaba de chegar às
livrarias. Chama-se A psicanálise na Terra do Nunca (Penso/Grupo A) e foi escrito pelos
psicanalistas Diana e Mário Corso. Os autores nos lembram logo na introdução que, ao
contrário de nossas crenças, vivemos mais na fantasia do que na realidade. “Quando reflete
sobre si, o homem comum se vê como alguém racional, lúcido, com os pés no chão, mas que
às vezes é tomado pela fantasia. Os psicanalistas acreditam no contrário: o homem sonha a
maior parte do tempo, e em certos momentos, geralmente a contragosto, acorda.” E, mais
adiante: “Na prática somos casados com a realidade, mas só pensamos em nossa amante: a
fantasia”.
Não existe aí nenhum juízo de valor do que é melhor ou pior, certo ou errado ou mesmo
mais ou menos importante. Apenas a constatação de que somos sonhadores despertos ou
despertos sonhadores. Somos constituídos pelas nossas fantasias tanto quanto pelos fatos
“reais” de nossa vida. Nossas fantasias falam de nós e moldam escolhas bem concretas na
nossa trajetória. Desde o homem ou a mulher que escolhemos até a decisão de ter ou não
filhos — e, no caso de tê-los, com que tipo de companheiro dividiremos essa tarefa. Assim
como ajuda a determinar o que esperamos desse homem ou mulher, da família que vamos
formar juntos e de nossos filhos.