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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               fortemente de uma perspectiva harmônica e não conflitiva dos processos
               econômicos, políticos e sociais envolvidos no drama desenvolvimentista”
               (RIBEIRO, 1991, p. 77). E, como já colocado, os documentos analisados mos-
               tram bem como pode se dar essa harmonia entre, por exemplo, uma uni-
               dade de conservação e um megaempreendimento. Essa harmonia, contu-
               do, é uma construção discursiva, não é uma realidade, e o autor faz críticas
               à forma como esse discurso de desenvolvimento sustentável é acionado.

               É importante ressaltar que as próprias UC’s são colocadas como projetos
               de desenvolvimento. Por exemplo, o momento em que mais se criou UC’s
               no país coincide com a época em que a expansão agrícola chegou até a
               região norte, na Amazônia (BARRETO, 1997). Sendo assim, foi justamen-
               te com a chegada de políticas de desenvolvimento que se desencadeou,
               também, a implantação de políticas de conservação das áreas. Estas, que
               mesmo com sua alta biodiversidade, são destinadas para múltiplos usos,
               desde sua substituição por economias comunitárias locais até a expansão
               industrial (FERREIRA, 2003).
               Entre os fatores relevantes para a escolha de uma categoria de UC, citados
               no relatório do IBAMA, constam, para além da presença de empreendi-
               mentos na localidade, as perspectivas de novos projetos, tornando a área
               de “grande valor econômico e estratégico para o estado e para o país”
               (IBAMA, 2006, s.p.). E, no mesmo texto, é colocado como um dos objetivos
               gerais para a criação de uma UC a importância de proteger a biodiversi-
               dade local de possível degradação ambiental. Surge, então, uma pergun-
               ta: como garantir que os dois cenários, uma área de relevância para pre-
               servação da natureza e a inclusão da mesma área no mapa de expansão
               econômica do estado, estejam de fato convivendo harmonicamente, sem
               que impactos diretos recaiam sobre as UC’s?

               Essa é uma pergunta que só poderia ser respondida a partir da elaboração
               de estudos para saber como o ambiente que visa a preservação realmente
               está; no entanto, ainda não foram feitos estudos por parte do ICMBio da
               área em questão, existindo apenas os monitoramentos que cada empre-
               sa deve fazer, mas que acabam sendo desarticulados e falhos. Portanto,
               resta-nos tentar responder à pergunta de acordo com a experiência geral
               desse tipo de acontecimento, de como funciona a relação de um grande
               projeto desenvolvimentista com o ambiente em que está inserido. O de-





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