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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
embarcações, teve de ser dragada devido à baixa profundidade da água
do mar. Os sedimentos foram despejados em mar mais profundo, embora
a empresa tenha se comprometido em descartar os resíduos da dragagem
em camadas para propiciar a formação de corais (VIEIRA, 2012).
COMBINANDO DESENVOLVIMENTO ECONôMICO E
CONSERVAçãO AMBIENTAL?
A criação das duas unidades de conservação, APA Costa das Algas
e REVIS de Santa Cruz, foi decretada no dia 17 de junho de 2010 e no
dia 7 de novembro do mesmo ano a Jurong obteve a Licença Prévia (LP)
e, posteriormente, a Licença de Instalação (LI) do IEMA. Não é misté-
rio que uma ocasião dependeu da outra. Tanto os analistas do ICMBio
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quanto um entrevistado da Barra do Riacho , sendo que o último esteve
bem presente em todo o processo da chegada da empresa na região, re-
conheceram que a criação das UC’s foi viabilizada através do pedido de
licenciamento da Jurong.
Segundo Lúcia da Costa Ferreira, “a escolha e instituição de determinada
área protegida provoca sempre uma crise” (2003, p. 47) e, dessa forma, o
processo das UC’s só caminhou porque o Governo do Estado almejava o
estaleiro em terras capixabas. A criação da APA e do REVIS ficou detida
durante a resistência do setor industrial e político de 2005, quando a pro-
posta já estava pronta e discutida em audiência pública, até 2010, quando
sua criação se tornou interessante para os mesmos setores que estavam
impedindo o avanço do processo. Em troca do ajuste da área proposta
para a APA, houve o apoio dos setores industrial e político do estado, e a
negociação girou em torno de uma área que também estava na proposta
do território da Jurong, qual seja, a área famosa entre os pescadores locais
por abrigar um pesqueiro de camarão rosa. A negociação pela retirada da
parte da APA se concluiu e as duas UC’s foram criadas, contribuindo com
a instalação da Jurong na localidade. Como diz Ferreira, “o processo que
envolve a seleção, implantação e gestão de áreas protegidas geralmente
está baseado em critérios ecológicos e econômicos, o que não garante o
sucesso dos resultados da conservação” (FERREIRA, 2003, p. 47).
6 Entrevistas realizadas pelo GEPPEDES, em agosto de 2016 e junho de 2017.
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