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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               e produtivo, e lançar mão de um discurso sustentável para se garantir os
               dois empreendimentos, UC’s e EJA, na região.


               CONSIDERAçÕES FINAIS

                  O caso narrado no presente artigo caracteriza bem a afirmativa de que
               certas correntes ambientalistas e os projetos desenvolvimentistas tendem
               a trabalhar juntos em busca de um ideal de desenvolvimento sustentável.
               Como exemplo disso, a proposta das duas unidades de conservação, APA
               Costa das Algas e REVIS de Santa Cruz, teve que se adequar à chegada da
               Jurong para obter apoio para sua criação, visto que o estaleiro era a chave
               para o governo também manifestar a sua aprovação em relação à propos-
               ta. Com isso, Barretto trata as unidades de conservação como objetos não
               acabados, justamente por serem “construídos por uma combinação de
               definições jurídicas, pressões setoriais, interpretações científicas, planos
               governamentais, etc” (PETI/CEDI apud BARETTO, 1997, p. 9). A questão
               que fica é se, ao final de tudo isso, a realidade contempla a expectativa e,
               além disso, dentre humanos e não humanos que habitam a área, quem
               acaba saindo prejudicado?

               Cabe dizer, com o auxílio de Ribeiro, que o desenvolvimento sustentável
               se configura apenas em utopia, ao tentar: manipular o futuro; suspender
               conflitos e corrigir deficiências a partir de soluções inviáveis; tratar a hu-
               manidade como uma só e como tendo um mesmo destino universal; e
               construir uma visão holística da realidade (RIBEIRO, 1991).
               Vemos que ambos os projetos se concretizaram e vivem transmitindo uma
               ilusão de bom convívio. A construção da Jurong nas imediações da Barra
               do Riacho, mesmo trazendo impactos negativos, se efetivou, e ela ainda
               não colocou em prática todas as medidas compensatórias previstas em
               sua instalação. Assim como as duas UC’s também se tornaram realidade,
               porém no entorno de diversos empreendimentos que podem estar geran-
               do impactos negativos ao ambiente que pretensamente seria protegido.

               No final, restam agentes humanos que, envolvidos por todas essas questões,
               acabam recebendo impactos de ambos os lados, como as comunidades vi-
               zinhas aos dois projetos, em especial a comunidade de Barra do Riacho.
               A população de pescadores, especialmente, sai prejudicada por receber, a





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