Page 11 - LIVRO - ENCONTRO DE RIO E MAR_160x230mm
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Prefácio




                    É em meio a um momento de graves problemas políticos e econômicos no
                    Brasil que apresento o livro “Vidas de rio e de mar: pesca, desenvolvimen-
                    tismo e ambientalização”. O cenário retratado por ele é devastador, triste
                    e, em alguns momentos, macabro, como um filme de terror, e merece ser
                    divulgado.

                    Em 5 de novembro de 2015, ocorreu o que se chegou a denominar o "maior
                    desastre ambiental no Brasil", perto de Mariana, Minas Gerais, a partir
                    do rompimento da barragem de Fundão com rejeitos de mineração. Loca-
                    lizada no subdistrito de Bento Rodrigues, fruto de um empreendimento
                    conjunto entre as maiores empresas de mineração do mundo, Samarco
                    Mineração S.A., a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton,
                    a barragem se rompeu, quando então mais de 60 milhões de metros cú-
                    bicos de rejeitos de minério foram derramados no rio Doce, cuja bacia
                    hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Es-
                    pírito Santo, muitos dos quais tinham seu sistema de abastecimento de
                    água relacionado à água do rio. Ao final de vários dias, a lama, que reunia
                    toxinas em altíssima quantidade, desaguou no mar do norte do Espírito
                    Santo. Dezenove pessoas morreram e comunidades ficaram submersas
                    na “lama da Samarco”.
                    O refugo de mineração despejado no rio inviabilizou muitas vidas, ma-
                    tando muitos dos entes naturais que lá ainda viviam. Aos pescadores, res-
                    taram as incertezas e a proibição de pescar no mar litorâneo. A água de
                    várias cidades ficou contaminada e proibida para o consumo. Muito se
                    falou sobre esse acidente em todo o mundo, nos centros de pesquisas, pe-
                    las redes sociais, em mídias digitais, nos jornais impressos, nas TVs. Am-
                    bientalistas e pesquisadores de vários países vieram ver de perto o grande
                    desastre. Falou-se em morte do rio Doce para sempre.
                    No entanto, muito antes da ruptura dessa barragem, muitos problemas
                    eram vivenciados pelas populações residentes da faixa costeira no estado
                    do Espírito Santo. Um desenvolvimentismo rentista, baseado em commo-
                    dities e predatório em relação ao meio ambiente, havia se consolidado
                    através de um planejamento da agenda pública do estado, alinhado aos




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