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Além disso, outras medidas são analisadas, como o pouco transparente
Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), assinado em
março de 2016, que, por sua vez, resultou na polêmica criação da Funda-
ção Renova, meses depois do TTAC.
O artigo A alimentação enquanto relação visceral com o pescado na vila de
Regência e algumas pontuações sobre os seus desvios pós-lama da Samarco,
de Bianca de Jesús Silva e Clara Crizio de Araujo Torres, propõe eviden-
ciar os cortes da rede de relações sociais resultantes da obrigatoriedade
judicial de auxílio emergencial aos afetados pela lama tóxica e pela rup-
tura da barragem. A proibição da pesca e as incertezas sobre o consumo
e a distribuição do pescado foram analisados e confrontados à luz das
discussões feitas pelos moradores sobre os laudos técnico-científicos. A
estrutura de análise montada enfoca as relações dos consumidores com
o pescado a partir de uma perspectiva ontológica da alimentação. Procu-
ra, igualmente, refletir as relações que os habitantes da comunidade de
Regência Augusta constituíram com o pescado após a contaminação da
água do rio e do mar, ressaltando os modos de (re)invenção dos morado-
res sobre as incertezas. Conclui que o processo acarretou a alteração da
alimentação na vila e implicou um conflito profundo de dimensões onto-
lógicas nas relações locais com a alimentação.
O artigo No “inside” tem lama: análise a partir da perspectiva dos surfistas de
Regência após o rompimento da barragem de Fundão, de Marianna Gonçalves
de Paula, apresenta a situação dos surfistas também em Regência Augus-
ta, após a chegada dos rejeitos. Foram realizadas entrevistas com alguns
dos surfistas frequentadores das ondas dessa vila, visando captar as rela-
ções que estabeleciam com a localidade, o mar e suas ondas, antes e após
o acidente. O artigo destaca alterações na relação com as águas e ondas de
Regência Augusta, a importância que os surfistas dão para as caracterís-
ticas sensorialmente percebidas das águas e que indicam a presença dos
rejeitos de mineração, bem como as incertezas sobre os efeitos dessa pre-
sença na saúde humana. Registra o caráter cíclico dos surfistas na relação
com esse mar alterado em seus atributos.
O artigo Documentários na rede sobre o Rio Doce após a “lama da Samarco”:
imagens e territórios em disputa, de Daniela Zanetti, Jéssica Latif e Gessica
Amâncio, identifica modos de visibilidade de comunidades e grupos so-
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