Page 17 - LIVRO - ENCONTRO DE RIO E MAR_160x230mm
P. 17

ciais atingidos pelo rompimento das barragens. Tendo como suporte de
                    comunicação a produção audiovisual documental compartilhada em
                    rede, apresenta a análise de um conjunto de vídeos disponibilizados no
                    YouTube, produzidos a partir de 2015. Os vídeos tratam especificamente
                    das consequências ambientais, sociais e culturais geradas a partir dessa
                    tragédia ambiental, que tiveram como foco a maneira como esse evento
                    afetou as comunidades situadas às margens do Rio Doce, identificando os
                    dispositivos narrativos utilizados, e as “vozes” dos documentários, a partir
                    do modo como distintos atores sociais se apropriam da problemática em
                    questão e (re)elaboram seus discursos sobre o evento, salientando as di-
                    nâmicas sociais, políticas e econômicas nesses territórios.

                    O artigo Uma onda de lama: viagem de águas tóxicas de Bento Rodrigues ao
                    Atlântico brasileiro, é versão traduzida e expandida do artigo A wave of mud:
                    the travel of toxic water, from Bento Rodrigues to the brazilian Atlantic, de Elia-
                    na Santos Junqueira Creado e Stefan Helmreich, que oferece uma análise
                    antropológica e etnográfica do momento posterior ao desastre. Explora
                    a metáfora amplamente utilizada da onda de lama, usada em referência
                    ao deslocamento de rejeitos de mineração, a partir de Bento Rodrigues e
                    descendo rio Doce. Baseia-se em testemunhos oculares, relatórios cientí-
                    ficos, notícias, redes sociais, documentários e, ainda, em uma peça de tea-
                    tro. Os autores argumentam que a imagem da onda de lama pode ajudar a
                    entender os efeitos físicos e simbólicos desse desastre e crime ambiental.
                    Os autores tentam interlocução com autores da antropologia simbólica,
                    da antropologia dos rios e da antropologia da ciência e da tecnologia.

                    Espera-se  que  as  reflexões  aqui  apontadas,  que  questionam  esse  telos
                    idealizado, apontando para o efeito deste na natureza, somem-se a várias
                    outras iniciativas e que, assim, possam contribuir para a transformação
                    de paradigmas em prol da manifestação de uma nova forma de pensar
                    e tratar o ambiente, a natureza e os seres que dela dependem e com ela
                    interagem.
                    Apesar das lamacentas imagens e cenários macabros retratados neste li-
                    vro, finalizo esta apresentação apontando para o desejo aqui presente de
                    um horizonte onde os diferentes atores e agentes se sintam mais forte-
                    mente imbricados no enredo e se responsabilizem por ele. Boa leitura!

                    Winifred Knox, Natal (RN), 28.02.2018.




                                                    15
   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21   22