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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               ção empresarial-industrial procedia em considerável parte dos próprios
               pescadores artesanais, os quais, através do seu trabalho, alimentavam o
               sistema de compra nos portos. É nesse sentido que vai se reforçar o pro-
               jeto de transformar o pescador em força braçal das empresas pesqueiras:
                       A Sudepe cumpriu um papel importante para o capital: viabilizar
                       a expansão da pesca enquanto um negócio moderno e rentável
                       para um grupo de empresários, criando, ao mesmo tempo, uma
                       força de trabalho [os pescadores artesanais] disponível, ora per-
                       manente, ora de reserva (RAMALHO, 2014, p. 50).
               No PNDP, a SUDEPE (1980) faz críticas a sua própria gestão, apontando
               o despreparo da instituição no cumprimento das suas atribuições, espe-
               cialmente a falta de habilidade em administrar centenas de projetos de
               incentivos fiscais, sem um planejamento adequado, “[...] sendo que as ati-
               vidades de revenda e financiamento se encontravam praticamente parali-
               sadas” (SUDEPE, 1980, p. 22).
               Diante desses problemas identificados, a SUDEPE viu a necessidade de
               reformular suas diretrizes. Em 1974 é editado o Decreto 73.632 (BRASIL,
               2016c), que dispôs sobre a estrutura da instituição e indicaria as suas
               competências. Ao analisarmos o documento, é possível verificar a forte
               promoção da tecnificação da pesca a fim de atender aos interesses da mo-
               dernização do setor, direcionamento este que, como já observamos no
               decorrer desse artigo, vem sendo reforçado desde a sua implementação,
               com o projeto de nacionalização da pesca.

               Além de enfatizar a importância da qualificação para suprir a demanda
               da indústria de pesca, o decreto também promove a pesquisa no setor a
               fim de explorar novos métodos de pesca e a preservação dos recursos ma-
               rinhos. Quanto à assistência aos pescadores, o dispositivo legal direciona
               as colônias, através do sistema de cooperativas, a fim de que eles possam
               gerar rendimentos que supram suas necessidades. Esses atos mantêm o
               papel tutelar que as colônias de pescadores assumiram desde a sua cria-
               ção na Missão do Cruzador em 1919.
               Observa-se que a grande meta do governo brasileiro com a criação da SU-
               DEPE era promover uma pesca empresarial-capitalista no Brasil, fazendo
               da atividade pesqueira uma indústria de base. Entretanto, o ousado plano




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