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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               DEPE vai direcionar a sua prioridade para o desenvolvimento da indústria
               pesqueira, mas, do mesmo modo que as intervenções políticas anteriores,
               os benefícios não chegarão aos pequenos pescadores e suas comunidades.
               Ao contrário, passou-se à exploração dos recursos pesqueiros e à desvalo-
               rização da atividade artesanal e, consequentemente, dos pescadores. Não
               obstante, estaria direcionada a atender aos interesses estatais e grupos que
               se beneficiariam com a tecnificação e modernização do setor pesqueiro.
               As ações políticas direcionadas aos pescadores não conseguiram atentar
               para as desigualdades geradas pelo próprio projeto desenvolvimentista.
               Por esse caráter excludente e elitista é que Furtado (1983) defende a tese de
               que a ideia desse desenvolvimento econômico é utópica:

                       [...] a ideia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das
                       formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizá-
                       vel. Sabemos agora de forma irrefutável que as economias da pe-
                       riferia nunca serão desenvolvidas, no sentido de similares às eco-
                       nomias que formam o atual centro do sistema capitalista. Mas,
                       como negar que essa ideia tem sido de grande utilidade para mo-
                       bilizar os povos da periferia e levá-los a aceitar enormes sacrifí-
                       cios, para legitimar a destruição de formas de culturas arcaicas,
                       para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio
                       físico, para justificar formas de dependência que reforçam o ca-
                       ráter predatório do sistema produtivo [...] Cabe, portanto, afirmar
                       que a ideia de desenvolvimento econômico é um simples mito
                       (FURTADO, 1983, p. 75. Grifo nosso).

               Para compreendermos como a pesca e os pescadores artesanais são iden-
               tificados nesse período, analisamos o Plano Nacional de Desenvolvimen-
               to da Pesca – PNDP (1980), considerando que o documento apresenta
               aspectos históricos da política pesqueira e também avalia o período de
               gestão encampado pela SUDEPE. O relatório de 165 páginas é dividido
               em duas partes: “Aspectos Institucionais do Desenvolvimento da Pesca no
               Brasil” e “Aspectos Econômicos do Desenvolvimento da Pesca no Brasil”.
               Para este estudo, vamos analisar a primeira parte do documento.
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               O período  de gestão da SUDEPE é atravessado pela instauração do re-
               5   Do final da Segunda Guerra Mundial (1945) até a primeira crise do petróleo (1973), é
               considerado o período chamado de ‘anos dourados’ da ‘era de ouro do capitalismo’, marca-




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