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Capítulo 1

                    fracassou, pois, comos incentivos fiscais voltados à pesca industrial, o que
                    se deu foi a sobrepesca, tendo como resultado a diminuição dos recursos
                    pesqueiros (DIEGUES, 1983). Nesse cenário, o projeto desenvolvimentista
                    já estava em crise e, desse modo, passou-se, então, a questionar o papel do
                    Estado como articulador do desenvolvimento capitalista nacional. Assim,
                    a gestão conturbada por exacerbados usos de incentivos fiscais/créditos,
                    exploração de recursos pesqueiros e sua consequente diminuição provo-
                    cou a extinção da SUDEPE em 1989.


                    CONCLUSÕES

                       As orientações da política pesqueira na trajetória analisada deixaram
                    suas marcas, as quais resultam no processo crescente de vulnerabilidade
                    dos pescadores artesanais. A centralização das ações políticas nas colô-
                    nias de pescadores mantém o caráter tutelar construído, não mais com
                    a Marinha brasileira, mas no papel das colônias como intermediadoras
                    entre o pescador e o Estado. A complexidade das normatizações, a exigi-
                    bilidade burocrática e a carência do conhecimento das políticas públicas
                    também colaboram para a atual dificuldade do acesso do pescador aos
                    seus direitos. Desse modo, verifica-se que o Estado passou não apenas
                    a instituir regras para o exercício da atividade pesqueira como também
                    a produzir interpretações acerca de qual seria o papel do pescador ar-
                    tesanal no contexto do desenvolvimento brasileiro, as quais ainda hoje
                    repercutem e impactam significativamente a realidade de pescadores ar-
                    tesanais e de suas comunidades.
                    O discurso do artesanal como atrasado e como impedimento à moder-
                    nidade reforçou a equivocada compreensão de uma cisão entre o tradi-
                    cional e o moderno, além de uma visão estereotipada dos pescadores,
                    vendo-os como uma categoria limitada, incapaz de contribuir com o de-
                    senvolvimento do país e com a construção e participação de uma política
                    pública. Esta, por seu caráter público, não deveria priorizar interesses de
                    determinados segmentos, sejam eles estatais ou privados.
                    Com isso, o que se observa são as transformações que serão promovidas
                    pelo avanço industrial nos territórios pesqueiros, a priorização da pesca
                    de grande escala e da aquicultura e a ausência de políticas públicas que,
                    de modo eficaz, proporcionem o desenvolvimento da atividade artesanal




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